10 de julho de 2014

BUSTOS NO RIO DE JANEIRO

Mesmo com as seleções de Portugal e Brasil fora da grande final do campeonato de Mundo de futebol há muitas razões para ir até ao Rio de Janeiro. Esqueça o estádio do Maracanã, vá direitinho a Ipanema  e sente-se na esplanada de  um bar com nome de canção, Garota de Ipanema. Peça um chopinho gelado, um bolinho de bacalhau e pergunte pelo Manuel Capão.



GAROTA DE IPANEMA: UMA CANÇÃO, UM BAR, UM CAPÃO DE BUSTOS

O poeta brasileiro Vinicius de Moraes tinha por bom hábito saborear as horas, entre tragos no whisky, sentado a uma mesa com vista para a rua, melhor dizendo, para um cruzamento, num bar chamado Veloso, no bairro de Ipanema do Rio de Janeiro.      

Corria o ano de 1962. Veloso era mais do que um bar de esquina, era o escritório de Vinicius de Moraes e Tom Jobim. Ali se acertavam projetos, se discutiam ideias, se curtiam os desamores e festejavam sucessos. Ali acontecia de tudo um pouco e, vezes houve, em que surgiram ideias, letras e melodias que haveriam de se transformar em canções. Ali (con)vivia-se.  
Contam os entendidos que Vinicius e Jobim tinham gravado Menina que Passa, mas não lhes agradava a letra falando de uma menina cansada de tudo, tão sem poesia, tão sem passarinhos.
Mas não terá sido por causa desses versos falhados que o poeta se encheu de brios, a inspiração surgiu ao observar uma rapariga em biquíni, Heloísa Eneida Menezes Paes Pinto, então com 17 anos. A visão da menina caminhando entre a praia e a casa, temperada com whisky, inspirou o poeta a escrever versos imortais:

Olha que coisa mais linda
Mais cheia de graça
É ela menina que vem e que passa
Num doce balanço
Caminho do mar (…)

A canção ultrapassou fronteiras, ganhou estatuto internacional, transformou-se num ícone do Rio de Janeiro. De Frank Sinatra a Madonna, passando por Mariza, são muitas as vozes que deram renovadas vidas a Garota de Ipanema. Tudo isto é conhecido, mas o que muitos desconhecerão é que no Veloso vai surgir um bustuense, rapaz nascido na Azurveira, de seu nome Manuel Capão.

Manuel Capão 

No decorrer dos anos sessenta, a exemplo de tantos outros portugueses, Manuel Capão projetou emigrar para a Venezuela. Mas antes desse grande passo decidiu visitar o Rio de Janeiro. O encontro com a cidade maravilhosa foi de tal forma bem sucedido que decidiu ficar seduzido pelo desafio de adquirir parte da sociedade que explorava o Veloso.
Passaram os anos e Manuel Capão, num acto de grande visão empresarial, mas também de sentida homenagem, decidiu mudar o nome ao estabelecimento que passou a chamar-se Garota de Ipanema. Também a rua Montenegro mudou de nome, passando a designar-se rua Vinicius de Moraes.



Rapidamente o Garota de Ipanema se transformou num símbolo carioca, numa referência obrigatória dos guias turísticos, num quase local de peregrinação.
A visão e o espírito empresarial de Manuel Capão levaram-no depois a multiplicar Garotas pelo Rio de Janeiro. Garota da Urca, Garota do Flamengo, Garota de Copacabana, etc. Outras Garotas foram abrindo portas e, em algumas delas, a presença destacada da bandeira portuguesa deixa bem claro que, sendo carioca, esta Garota é também portuguesa e tem raízes em Bustos. Ou, como diria Manuel Capão, tem picanha da boa, mas também serve bolinho de bacalhau.

Belino Costa

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