5 de agosto de 2012

Maré Alta - O tempo e a memória, por Aristides C. Arrais


Maré Alta

Por Aristides C. Arrais                             
O tempo e a memória



Sempre existirá algo que ainda não foi dito. E é salutar que sempre se o diga... Ou para aperfeiçoar, ou para reparar, enriquecer ou até mesmo para repor verdades.
                                                              
    Manuel Moreira
Manuel Moreira foi um cidadão bustuense. Um cidadão como tantos outros que, ainda jovem, resolveu conhecer novas terras, novos mundos imigrando para Moçambique uma das então muitas colônias portuguesas. Lá mourejou sol a sol para através de sua força de trabalho e capacidade de ação determinada, conseguir amealhar umas boas economias e assim obter uma qualidade de vida melhor, diferente - claro - daquela que lhe poderia oferecer suas plagas de origem, se lá permanecesse.
Alguns anos se passaram até que Moreira, já senhor de um acentuado patrimônio pecuniário, decidiu voltar à sua terra natal, em busca de alguém que ocupasse o seu coração e o espaço de uma parceria de amor eterno. Encontrou...  Casou e se foi de volta a ocupar o universo que ele tão bem soubera conquistar, além mar.

A sina de cada um nem sempre apresenta lances cor de rosa...

A vida de casado do Sr. Moreira teve como coroamento familiar, o nascimento de três herdeiros: um menino e duas meninas, não necessariamente nesta seqüência. Mas, o infortúnio que a seguir batera à sua porta, levou embora sua companheira acometida por fatal epidemia, muito comum naqueles tempos de precários avanços medicinais. Uma desoladora tristeza abateu nosso personagem de tal modo traumatizante, que o mesmo, como bom bustuense, resolveu voltar à terra com sua prole.

Acolhido por uma sua irmã moradora na Azurveira, lá permaneceu por algum tempo junto a seus filhos, até se decidir voltar novamente àquela colônia da África, onde conseguira se firmar como um profissional de valorizado nível.

A ti Maria do Carmo, com seu marido ausente, e três filhos crianças para criar*, assumiu a responsabilidade de cuidar daqueles outros três miúdos sobrinhos, com reconhecida dificuldade. O menino, filho de Moreira, morreu algum tempo depois da partida do pai.        

Mais alguns anos de serviço em Moçambique até conseguir uma boa aposentadoria e Manuel Moreira retorna definitivamente para Bustos, onde reencontra suas filhas, a irmã Maria do Carmo e seu cunhado, Manuel Pereira Arrais chegado do Brasil. Embora abatido com a perda de seu barão, readquire a coragem própria de homem determinado, propondo-se a restabelecer um novo lar pensando em suas filhas, Ilda e Helena, então já bem crescidas.

Jacinto dos Louros decidira mudar-se para Ílhavo. Todavia, inicialmente encontrara alguma dificuldade em seu objetivo. A esposa era professora da escola primária de Bustos e sua transferência tornara-se problemática devido à falta de vaga em escola daquela outra freguesia. Depois de algum tempo de persistente busca por uma solução, Jacinto dos Louros conheceu uma solitária professora, Elisa, que aceitava uma transferência para Bustos, concordando com a respectiva troca. A dificuldade de moradia apresentada pela professora Elisa, logo foi solucionada por Jacinto dos Louros, colocando sua residência situada naquela freguesia bairradina, à disposição da nova professora.

Manoel Moreira ficou sabendo por intermédio de seu cunhado Arrais, amigo de Jacinto dos Louros, que este pretendia vender sua casa.  Dirigindo-se a Ílhavo, Moreira fez saber a Jacinto dos Louros, de seu interesse em comprar sua vivenda, mas este informou ao interessado que, embora pretendesse vender a residência de Bustos, existia na mesma um impeditivo representado pela presença da professora Elisa.
Casa dos avós maternos do autor e que ficava em frente à de Jacinto dos Louros

Não obstante, conversaram sobre o valor da transação ficando combinado que o negócio poderia ser concretizado, desde que Moreira solucionasse a desocupação do imóvel. De volta a Bustos, Moreira entrou em contacto com a professora e, após uma série de conversas muito proveitosas, a questão foi equacionada: Moreira, viúvo, casou-se com a professora, o que lhe permitiu a concretização da efetiva compra do imóvel de Jacinto dos Louros sem quaisquer outros empecilhos.  

O casal teve uma filha, Maria Celestiana (?) da Costa Moreira - a Mimi - que segundo nos consta, obteve estudos de formação superior, tornando-se uma pedagoga (esta afirmativa carece de confirmação).

*Manuel, Nilo e Célia (Já falecidos)
> Manuel Moreira, tio de Manuel Arrais, o alfaiate, pai de A. C. Arrais
> Manuel Pereira Arrais e Maria do Carmo, falecidos, avós de A. C. Arrais; 
> Ilda, casou-se com Antero Aires (ambos falecidos). Helena mora na Azurveira
Manuel Moreira e seu sobrinho
Manuel Arrais, aos cinco anos de idade.

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