19 de janeiro de 2011

AMARAL DOS REIS PEDREIRAS

Esta Gente

Esta gente cujo rosto
Às vezes luminoso
E outras vezes tosco
Ora me lembra escravos
Ora me lembra reis
Faz renascer meu gosto
De luta e de combate
Contra o abutre e a cobra
O porco e o milhafre

Pois a gente que tem
O rosto desenhado
Por paciência e fome
É a gente em quem
Um país ocupado
Escreve o seu nome
E em frente desta gente
Ignorada e pisada
Como a pedra do chão
E mais do que a pedra
Humilhada e calcada
Meu canto se renova
E recomeço a busca
Dum país liberto
Duma vida limpa
E dum tempo justo
Sophia de Mello Breyner







Nota de rodapé:

Os homens que morrem não partem sozinhos. Alguns levam com eles um tempo, uma época das nossas vidas. Eles morrem e um pedaço de nós parte com eles. Vai-se para todo o sempre.

Chorando a morte dos outros choramos também a nossa, que vai acontecendo assim, aos bocadinhos.

Vamos falecendo em cada morte que nos toca, que nos marca.

B.C

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