17 de julho de 2009

FERREIRA DA SILVA - «O BRASILEIRO» QUE MUDOU BUSTOS

Manuel Ferreira da Silva
Caneira (Mamarrosa) - Bustos
27.09.1901 - 16.01.1990


Arsénio Mota[1] no seu e desde 1983 nosso livro “Bustos – elementos para a sua história” faz um registo de iniciativas acontecidas na freguesia e que lhe mereceu o sub-título “Anos 30: uma «explosão».

Sem passar a pente fino lá encontraremos:

.«a construção da sua primeira escola pública»,
.«a feira bi-mensal»,
.«o cinema»,
.«a União Liberal de Bustos»,
.«a electrificação»
.a pavimentação com paralelepípedos das estradas nacionais de 3ª que a servir Bustos e Sobreiro.
.a passagem de «carreiras regulares de camionagem».
.o aparecimento do “«Ford» de Manuel Nunes Pardal” e a provocar espanto.

Apesar da sua população ter baixado para 1625 habitantes[2], Bustos transformara-se num estaleiro recheado de realizações.


E porque o VII Fórum de Bustos (2009) evoca Manuel Ferreira da Silva, aliás, vai concretizar uma aspiração de Mário Reis Pedreiras acalentada nas comemorações do Dia de Bustos’1990, “que, no próximo ano, lhe seja prestada digna homenagem” conforme o JB[3], considero oportuno divulgar o texto que Arsénio Mota dedica a Manuel Ferreira da Silva.

«Brasileiro» aposta no Cinema


Coube a Manuel Ferreira da Silva, de Quinta Nova, que se fixara no Brasil e onde fizera fortuna, a honra de introduzir o Cinema em Bustos, A sua aposta máxima teve o nome de Centro Recreativo de Instrução e Beneficência, fundado em 1936.
Foi um sonho, temerário, sim, mas coroado pelo melhor êxito, graças à visão rasgada, ao saber pioneiro e ao dinamismo de que deu amplas provas.
Manuel Ferreira da Silva criou no povo bustuenses e dos arredores, desde os «anos heróicos» iniciais, o gosto pelo Cinema, levando-o a frequentar semanalmente aquela casa de espectáculos. Lançou inclusive um sistema muito simples e aliciante, porque era económico, de «assinatura mensal», espécie de cineclube avant la lettre - algo de espantoso numa localidade rural e naquela época.
Bustos orgulhou-se, nos anos 30 e 40, e mesmo depois, quando tantas cidades de província ainda não podiam dispor de sala com cinema sonoro, de ser uma simples aldeia e possuir - mais: merecer! - a sua excelente casa de espectáculos.
No seu palco se representou, nomeadamente, a revista à Parque Mayer «Bustos em Cuecas», que deixou fama a perdurar muitos anos, e se realizaram assíduos bailes e outros actos públicos.
Em 4 de Setembro de 1977 reabriu após um interregno para obras de beneficiação, que de novo a colocaram na vanguarda das casas do seu género. Mudou então de nome, passando a designar-se Bustos Sonoro Cine e a exibir por norma três filmes por semana, com matinée ao domingo e baile à noite.

Voltando ao espectáculo que os bustuenses realizaram brilhantemente, anota-se que os respectivos ensaios se alongaram de 1934 até 1937, - ano em que «Bustos em Cuecas» subiu ao palco. O ensaiador (director) era David Pessoa, alfaiate e depois comerciante e emigrante; o director musical era Emitério Fernandes, da Palhaça; o compère, Manuel Sérgio. Mas o elenco incluía ao todo dez homens e nove mulheres em cena. O espectáculo foi apresentado nove vezes, sempre com lotações esgotadas e grande êxito. Ditos em palco ficaram gravados na memória colectiva e passaram a fazer parte do refraneiro local.

[Fim de transcrição]

(pg.s 30 e 31 )
______________
[1] Arsénio Mota, “Bustos – elementos para a sua história”, edição da Associação de Beneficência e Cultura de Bustos, 1983
[2] idem
[3] Jornal da Bairrada, 23.02.1990

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