21 de março de 2009

MINHA ALDEIA (António Gedeão)*


Minha aldeia é todo o mundo.
Todo o mundo me pertence.
Aqui me encontro e confundo
com gente de todo o mundo
que a todo o mundo pertence.

Bate o sol na minha aldeia
com várias inclinações.
Ângulo novo, nova ideia;
outros graus, outras razões.
Que os homens da minha aldeia
são centenas de milhões.

Os homens da minha aldeia
divergem por natureza.
O mesmo sonho os separa,
a mesma fria certeza
os afasta e desampara,
rumorejante seara
onde se odeia em beleza.

Os homens da minha aldeia
formigam raivosamente
com os pés colados ao chão.
Nessa prisão permanente
cada qual é seu irmão.
Valências de fora e dentro
ligam tudo ao mesmo centro
numa inquebrável cadeia.
Longas raízes que imergem,
todos os homens convergem
no centro da minha aldeia.

* com a devida vénia, NB edita:

Antonio Gedeão.
Poesias Completas (1956 – 1967)
Portugália,
Colecção Poetas de Hoje,

[Teatro do Mundo, 1958]
7ª edição, 1978

1 comentário:

  1. Filipe II tinha um colar de oiro,
    ...
    Foi dono da Terra,
    foi senhor do Mundo,
    nada lhe faltava,
    Filipe Segundo.
    Tinha oiro e prata,
    pedras nunca vistas,
    safiras, topázios,
    rubis, ametistas.
    Tinha tudo, tudo,
    sem peso nem conta,
    bragas de veludo,
    peliças de lontra.
    Um homem tão grande
    tem tudo o que quer.

    O que ele não tinha
    era um fecho éclair.
    _
    Do mesmo António Gedeão, aliás prof. Rómulo de Carvalho (que vai ser homenageado no IEC, salvo erro)\Linhas de Força, 1967.

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