26 de março de 2008

RADIO HABANA CUBA – ONDAS CORTAS

No tempo em que o 25 de Abril’74 carregava o andor da ressuscitada Liberdade em Portugal, na comunidade portuguesa da Venezuela, avessa à cor vermelha das camisolas partidárias, havia pelo menos um ouvinte assíduo da Rádio Havana, com a qual chegou a trocar correspondência.

NB reproduz em 1ª mão o memorando enviado pela Rádio Havana ao emigrante de então , actualmente cidadão eleitor de Bustos, vinculado a um partido local da direita e com a côngrua em dia.

‘… até gostava do que a Rádio Havana dizia’, afirmou.

Um obrigado do NB por ter autorizado a divulgação do memorando.
sérgio micaelo ferreira

25 de março de 2008

CRUCIFIXOS ESCOLARES – (Um Monopólio de Salazar em nome da sua Constituição?!) - permanecem esquecidos

(da escola de Bustos)

A variedade de crucifixos e capelas do Senhor dos Aflitos chamou à colação a permanência dos crucifixos de Salazar em algumas salas das escolas.
Do envelope do correio-e. saltaram algumas imagens recentes de crucifixo esquecido nas paredes da escola do corgo.
A existência deste crucifixos nas escolas primárias remonta aos primórdios da Constituição de 1933, esta desenhada e cerzida com a bitola ajustada por Salazar.
« A introdução do crucifixo nas escolas é decretada pelo Lei n° 1941, 11 de Abril de 1934: mandava que "em todas as escolas públicas do ensino primário infantil e elementar existisse, por detrás e acima da cadeira do professor, um crucifixo, como símbolo da educação cristã[1] determinada pela Constituição." [2].
Aquele pormenor da colocação do crucifixo ‘por de trás e acima da cadeira do professor’ mostra que Salazar sabia criar engodos para seu proveito político e, um deles era o de acelerar o processo de massificação da religião católica, a coberto do cumprimento da Constituição de 1933.
Até a escolha do crucifixo normalizado partiu de Salazar, conforme a autora citada:
«O modelo [de crucifixo] oficialmente aprovado, "uma pequenina obra de arte concebida pelo génio do insigne estatuário Sr. Teixeira Lopes",…»[3].
A igreja de então não pregou prego nem estopa na 'operação crucifixo na sala de aula'.
Na mesma determinação, Salazar, a fim de combater a falsificação dos crucifixos ou de impedir a livre concorrência, ou ... , impõe que o crucifixo da catequisação de Salazar "teria de ser adquirido numa empresa muito recomendável, a União Gráfica (propriedade da Igreja católica)." [4].


Um negócio chorudo, de boa e certa cobrança e que poderia estar chamar umas tantas bênçãos de circunstância. [Por acaso, a colocação dos crucifixos nas escolas Primárias de Bustos não deu a ensejo a cerimónias religiosas de batina, estola ou água jordânica]

Mas a indústria da manipulação de Salazar não ficou por aqui.
O decreto n.º 25:305/1934, de 9 de Maio, destinado a fixar “o mobiliário mínimo para o funcionamento de cada lugar de professor” primário, no seu determinava no seu
“Art. 3.º - Deverá ainda haver em cada sala de aula, devidamente emmoldurado, o retrato do Chefe do Estado e, resguardada em redoma conveniente, uma bandeira nacional.”

Mais tarde, o retrato de Salazar, que não foi actualizado (?) completaria a trindade.
A propósito de Jesus estar ladeado por Salazar (o bom) e por Carmona (o mau), um distinto funcionário superior da administração pública fora demitido por ter proferido em voz alta que Jesus estava entre dois ladrões.

O conúbio de feição política existente entre a Igreja Católica e o Estado Novo permitido pela Constituição de 1933 que deveria ter terminado com o 25 de Abril ainda se manteve até à Constituição laica de 1976.
A concordata entre Estado do Vaticano e a República Portuguesa (2004) afirma no seu ‘preâmbulo’ “ a Igreja Católica e o Estado são, cada um na própria ordem, autónomos e independentes”.

Os crucifixos das escolas primárias que ainda estão lá. foram colocados por obra do Governo e não de qualquer instituição católica.
A Constituição Portuguesa ao inscrever a liberdade de culto, não está a perseguir a religião católica, mas sim a estender o direito de opção ou não-opção religiosa a todo o cidadão nacional, sem qualquer discriminação..
A escola primária (básica) não é obrigada a ter o exclusivo do símbolo da religião católica ou de outra.
Em Bustos, está enterrado o estigma da perseguição anticlerical, tanto mais que tendo uma Junta de Freguesia laica, não tem parado a construção de capelas, de altares e de “cruzeiro-altar” ou o apoio a obras ou remendos no condomínio Igreja+Banco+Junta. Contudo, permanece viva a prepotência da Igreja Católica demonstrada no bloqueio intempestivo da marcha de um funeral civil ocorrido a 4 de Junho de 2006, na via pública.
..
(da exposição em Freixo deEspadaà Cinta)
Defendo que o crucifixo retirado seria guardado até ser exposto em sala-museu da aula que muito bem poderia ser na própria escola do corgo. E nessa sala deveriam estar as réplicas dos desenhos pintados e oferecidos por Hilário Costa, mas que, por ser da oposição, o governo de Salazar ordenou que fossem retirados.

:::

[1] Provavelmente pretendia dizer católica
[2] [In MÓNICA, M.F. (1978) Educação e Sociedade no Portugal de Salazar. Lisboa: Editorial Presença], citada por New Page 1, Margarida Belchior e … «Tudo no seu lugar» 5. A sala de aula -
http://web.educom.pt/margaridabelchior/Ed_Est_Novo/s_aula.htm

[3] idem in Mónica. M. F. (1978) ... citada por por New Page 1, Margarida Belchior e … por New Page 1, Margarida Belchior e …
[4] idem in Mónica. M. F. (1978) ...por New Page 1, Margarida Belchior e …

sérgio micaelo ferreira

24 de março de 2008

Judas Iscariotes

Há dois personagens fascinantes que rodeiam a vida e a morte de Cristo: S. João Batista e Judas de Iscariotes. Se o 1º foi o promotor da “cristianização” de Jesus através do seu baptismo, o 2º é tido como o causador da sua morte.
Judas foi um dos 12 apóstolos de Cristo, todos o sabemos. Segundo os evangelhos, em especial o de Mateus, Judas traiu Jesus a troco de 30 moedas, entregando-o à assembleia dos 23 juízes da comunidade judaica de Jerusalém. Antecipando-se a Pilatos, o sinédrio judaico lavou as mãos do embaraço que seria julgar aquele que se apresentava como Messias e entregou-o às autoridades romanas.
O resto da história todos a conhecemos, até aqueles de nós que viam a catequese como um pesado frete. Para muitos de nós o verdadeiro clímax estava no que então chamávamos de “santo sacrifício da saída da missa”, aquele momento mágico em que as moças saíam da velha igreja de Bustos sob os olhares da nossa cobiça de rapazolas a tresandar a testosterona. Não havia mandamento capaz de nos libertar do desejado pecado da carne.
A Páscoa era então vivida com mais empenho do que o Natal. Era o tempo das nossas mães darem o seu melhor na limpeza e arrumação da casa, preparando-a para a visita pascal. No meu caso, que vivia e vivo no lugar de Bustos, esse dia era e é ainda a 2ª feira de Páscoa.

Mas terá Judas traído o seu Mestre, logo ele que era um discípulo dilecto do Nazareno?
A descoberta em 1978 do chamado “Evangelho de Judas” veio contrariar a tese da traição.
O documento, composto de 26 páginas de papiro escrito em linguagem cristã primitiva (copta), revela as relações de Judas com Jesus Cristo sob uma outra perspectiva: Judas não teria traído Jesus e sim, cumprido os desígnios deste, denunciando o Mestre a seu pedido.
A tese da traição serviu e serve os interesses da hierarquia cristã, desejosa de encontrar um bode expiatório para o anti-semitismo que cedo começou a assolar a igreja católica. Dava jeito ter alguém a quem diabolizar, numa espécie de prenúncio da caça às bruxas e da perseguição dos judeus que assolaram toda a idade média e se mantiveram até ao séc. XIX através do braço cruel da Inquisição.
Entre nós, a expressão dessa diabolização anti-semita residia no verdadeiro auto de fé que era a queima de Judas no sábado de Páscoa. Quem não se lembra da orgia da queima do feio boneco de palha pendurado numa forca? A queima de Judas, precedida de pauladas, fogo de artifício e do seu “julgamento” público, não passava dum festim bárbaro, só justificado porque vivíamos ainda no reino das trevas.
A liberdade tem isso de bom: faz de nós seres mais humanos e tolerantes e afasta os contornos bárbaros das tradições pagãs e judaico-cristãs.
*
oscardebustos

23 de março de 2008

ABC de BUSTOS ENCERRA 2007 EM ASSEMBLEIA-GERAL


CONVOCATÓRIA
Dando cumprimento ao nº2 do artigo 29º dos estatutos da Associação de Beneficência e Cultura de Bustos, convoco todos os associados desta agremiação, para uma Assembleia Geral, a realizar no próximo dia 29 de Março/08, pelas 19 horas, na sala do Centro de Dia desta Instituição, sito na Rua 18 de Fevereiro, Freguesia de Bustos, concelho de Oliveira do Bairro, com a seguinte ordem de trabalhos:

Ponto um - Leitura e aprovação da acta da reunião anterior;

Ponto dois - Apresentação, discussão e votação do Relatório de Actividades e Contas de Gerência do ano de 2007;

Ponto três - Outros assuntos de interesse para a associação.

De acordo com os mesmos Estatutos, e ao abrigo do nº5 do artigo 28º, se à hora marcada não houver número legal de associados, a Assembleia funcionará uma hora mais tarde com qualquer número de associados.

Bustos, 9 de Março de 2008

O Primeiro Secretário da Mesa de Assembleia
(Mário Rui Belinquete Vieira Rodrigues)

21 de março de 2008

SÃO POETAS ... & DEPORTAÇÂO SEM JULGAMENTO

NO NOSSO TEMPO
Pois é, pois é só agora
Que a gente isto crê!...
Uma pessoa que ninguém vê
Que eu nem dizer me atrêvo,
Matou-se, perdeu noites estudar
Álgebra e matemática
E a maneira mais pratica
De nos limpar o cêbo …

E não perdeu o tempo,
Que esta muito bem instalado!
Foi até muito, muito falado
Essa coisa do Estar … de Novo.
Piramidal bem estar,
Obra de inteligência sua,
Que pôs em farrapos na rua
O famigerado Zé povo …

Agora canta contente,
Sosinho lá no poleiro
E até no estrangeiro
É escutado o figurão!
Dorme em camas fofas;
Lê descansado os jornais,
Enquanto a gente aos ais,
Fossa duro no chão …
(…)

in António Maria da Silva Barreiro, Extravagancias poéticas (excerto). Hospital Militar de Coimbra, 19.12.1935 (inédito)

Nota: Mão cuidadosa de Belino Costa protegeu o manuscrito, em tinta verde, da ameaça da voracidade do tempo.
Notícias de Bustos pretende contactar descendentes do poeta para fazer um trabalho que acompanhe a divulgação deste manuscrito.
Endereço: noticiasdebustos@gmail.com

**
(De Joaquim Pessoa)

O último romântico acomoda-se por aí
preocupado com os próximos futuros. Não tem cartões nem
habilitações técnicas. Nem é doutor que baste. Demasiado
………………………………………………...................……artificial,
é naturalmente vulnerável a exigências e rigores, tem
o discurso marcado pelos outros, um discurso quase sempre
para ele próprio uma surpresa.
(…)
O último romântico esforça-se por mostrar
que não gosta por aí além do romantismo. Mas o brilho de
……………............................uma moeda na palma da mão
fá-lo acreditar que agarrou uma estrela.
(…)
in Joaquim Pessoa, VOU-ME EMBORA DE MIM, (excerto),Hugin Editores, L.da, 2000
**
(De António Aleixo)

O pão negro, onde ele é raro,
Faz sempre melhor figura
Do que o pão alvo e mais claro
Na mesa onde há com fartura
in António Aleixo, este livro que vos deixo, notícias editorial, Vol. 1, 15ª edição, Maio 1999.


A NÃO ESQUECER …

21 de Março de 1968 – Salazar em Conselho de Ministros decreta a deportação de Mário Soares para S. Tomé, sem ter havido julgamento ou sequer ' julgamento'.


Respigado de "Foi há 40 anos", 19 de Março de 2008:
... “Vamos mandá-lo para São Tomé, por tempo indeterminado." (...) Sacchetti sentenciou: "nos próximos dias haverá uma pequena agitação de superfície. Mas rapidamente tudo esquece. Como uma pedra que se lança a um poço... Dentro de meses ninguém se lembrará que houve um advogado chamado Mário Soares”. in Fundação Mário Soares, http://www.fmsoares.pt/

sergio micaelo ferreira


17 de março de 2008

SENHOR DOS AFLITOS - crucifixos à la mode

O Senhor dos Aflitos e o S. João fixaram representação em Bustos pela via paralela à Igreja oficial. As capelinhas primeiras foram erguidas em terrenos privados com a finalidade de cumprir promessas.

Entretanto surgem mudanças e mais mudanças…

e hoje, constata-se que o Senhor dos Aflitos da Paróquia de São Lourenço de Bustos, para além das capelas enumeradas por Belino Costa tem a honra de ter o seu nome inscrito duas vezes na toponímia: a Rua Nosso Senhor dos Aflitos, no lugar da Quinta Nova e o Largo Nosso Senhor dos Aflitos, na Póvoa.
…Bem, mas isso é assunto para historiadores e contadores.

Observando os crucifixos do Senhor dos Aflitos (1818, 1972 e 2004) recentemente editados por Belino Costa[1] são evidentes as divergências da sua representação.
A imagem de 1972 – a da capela do Povo unido da Póvoa – apresenta o Cristo inclinado para a esquerda. Esta pendência também se observa no crucifixo da capela de S. João.
Porque terá acontecido?


O pano que cobre as partes podengas acompanha a moda. De uma cobertura espessa (1818) passa para uma não discreta abertura da anca (2004). Sendo a crucificação a pena mais infame, cruel e humilhante, Jesus teria (?) sido pregado na cruz sem qualquer peça de roupa.

Na crucificação, o condenado era atado ou pregado, de mãos e pés a uma cruz formada por dois paus sujeitos a carpintaria tosca. Jesus foi fixado aos dois lenhos com 4 pregos. Entretanto a modernidade do Séc. XIII criou uma imagem nova do crucifixo com a aplicação de um cravo nos pés.

A cruz era um símbolo das religiões solares pré-cristãs e actualmente, as suas variantes tornaram-se o símbolo de religiões com origem em Jesus de Nazaré. As religiões emanadas do tempo da Reforma simplificaram o símbolo da religião, adoptando apenas a cruz para o não vexarem. A religião católica não entendeu assim.
A disseminação das cruzes com fins decorativos, mereceu de Eça de Queiroz a apreciação:

“Até a cruz, a forma suprema, tem perdido entre os homens a sua divina significação. A cristandade, depois de ter usado como lábaro, usa-a com enfeite. A cruz é broche, a cruz é berloque; pende nos colares, tilinta nas pulseiras; é gravada em sinetes de lacre, é incrustada em botões de punho – e a cruz realmente, neste soberbo século [séc. XIX], pertence mais à ourivesaria do que pertence à religião …”[2]


O símbolo da Cruz torna vivo o julgamento iníquo de Jesus que jamais se apagará da História, mas o Peixe, o sinal clandestino dos cristãos da igreja primitiva, esse, quase desapareceu da montra do marketing.
____________

[1] Belino Costa, SENHOR DOS AFLITOS : A MULTIPLICAÇÃO DOS CRISTOS E DAS CAPELAS , Notícias de Bustos, 10.3.08.
[2] Eça de Queiroz, A Relíquia, Edição «Livros do Brasil». 9ª edição, Lisboa
...................

Brevemente
“O Estado Novo financiou a produção de crucifixos”

Em tempo: O Estado Novo não financiou, mas sim criou o monopólio da venda de determinado modelo de crucifixos.

sérgio micaelo ferreira

13 de março de 2008

SENHOR DOS AFLITOS: UM QUASE RESSUSCITAR (1819-2008)


Enquanto o Largo da Póvoa se engalanava com duas capelas dedicadas ao Senhor dos Aflitos na Quinta Nova resistia uma acanhada capelinha, entretanto transformada em arrecadação. Mesmo assim insistia em lembrar o local original do culto.
Entre partilhas e vendas a propriedade foi mudando de mãos e o mesmo sucedeu ao Cristo crucificado que engalanava o altar do pequeno templo, obra datada de 1819. Curiosamente esta imagem encontra-se actualmente na Póvoa, pertencendo à senhora Maria Prudência, sogra do Mário Pinto, da Barreira, que herdou a imagem dos pais (Joaquim Simões Barreiro e Rosa dos Santos) que por sua vez a adquiriram, há cerca de oitenta anos, juntamente com o prédio onde se encontra a capela.


Desconhecemos a razão, ou razões, que levaram ao fecho da capelinha, certo é que o lugar deixou de celebrar os festejos, mas estes continuaram a perdurar na memória do povo.
Pelo avanço das obras tudo indica que também a Quinta Nova quer fazer jus à tradição pelo que, possivelmente ainda este ano, nova capela será inaugurado para receber a imagem original.
Será o regresso do Santo ao seu local de origem, cento e oitenta e nove anos depois das aflições originais.


Porquê? - Perguntarão alguns, ainda incrédulos com o desbaratar de capelas e santos. Porquê mais uma capela? - Insistirão os espíritos mais rigorosos ou cépticos. E eu, no meu modo de ver, respondo-lhes que a inauguração da segunda capela da Póvoa abriu mais do que um precedente, lançou um desafio ao povo da Quinta Nova. E depois porque tudo é circular, a Terra como a vida. Impunha-se fechar o círculo, no exacto ponto onde tudo começou.


Não faltam razões para que nova capela seja inaugurada. Mas mesmo que para tal não existisse motivo, justificar-se-ia sempre o esforço de assinalar mais um recorde no livro Guinness, candidatando-se Bustos ao galardão de “vila com mais capelas erguidas em louvor do Senhor dos Aflitos.”
Um feito, meus senhores! Um feito!

Belino Costa

12 de março de 2008

SENHOR DOS AFLITOS: DESPERDÍCIOS POLÍTICOS (2004)


No raiar do novo milénio, num altura em que Portugal beneficiava de significativos apoios da Comunidade Europeia, os políticos tinham ao dispor significativas quantias para investir na modernização do País. No concelho de Oliveira do Bairro tratou-se, por exemplo, de instalar a distribuição de água canalizada ao domicilio, melhorar as vias de acesso, passeios, aperfeiçoar a iluminação pública, etc. Mas havia mais a fazer para além do elementar e enquanto outras freguesias se apetrechavam com parques industriais, piscinas, bibliotecas, museus, auditórios, Bustos, seguindo a visão estratégica de Acilio Gala (Presidente da Câmara) e Manuel Conceição Pereira (Presidente da Junta de Freguesia), ambos do CDS, investia na construção de capelas. Foi por decisão política que, em 2004, surgiu uma nova capela dedicada ao Senhor dos Aflitos, desta vez ocupando o centro do Largo da Póvoa, segundo um projecto da arquitecta Fernanda Moreira, funcionária da Câmara Municipal.


“A Basílica”, como passou a ser alcunhada, foi inaugurada pelas 17 horas do dia dez de Junho de 2004, com a presença de um padre e vários políticos. Entre estes o presidente do Município, Acilio Gala, a vereadora municipal da Cultura, Leontina Novo, o Presidente da Junta de Freguesia de Bustos, Manuel Conceição Pereira, e uma delegação de representantes do Município de Benguela (Angola) que, por mero acaso, se encontrava de visita a Oliveira do Bairro.
Inauguraram então um edifício de linhas direitas onde não há quadras de redondilha maior, nem azulejos. Destaca-se uma placa no lado direito da entrada principal: “Capela Senhor dos Aflitos, inaugurada por Reverendo Padre Manuel Arlindo da Rocha Valente, Junta de Freguesia de Bustos, 2004-07-10.”
Desta vez o “Jornal da Bairrada” deu destaque de primeira página à inauguração (“Uma obra de amor materializada para o futuro”, segundo as palavras do Presidente da Junta), que acabou em repasto público: ”Uma vez terminada a cerimónia, cá fora, aguardava uma mesa recheada de comida e bebida para a qual foi convidada toda a população. ” (JB, edição de 14-07-2004).




fotos publicadas no jornal da Bairrada



Claro está que, mesmo aproveitando o repasto, a população não aceitou que a primeira capela fosse fechada ou demolida, nem que a imagem do Santo saísse do lugar onde fora colocada no ano de 1972. Ninguém admitiu ter poder bastante para desfazer o que estava feito. Dali o Santo não saía, e a pequena capela continuaria a abrir a sua porta, a ser cuidada com o desvelo de sempre. E com flores frescas!
Em face de tais circunstâncias a Câmara Municipal e a Junta de Freguesia viram-se na necessidade de encontrar uma nova imagem de Cristo. Valeu a boa vontade de António Simões Romão da Conceição que ofereceu a nova cruz, uma curiosa imagem de Jesus com olhos de vidro. (JB, idem)
Foi por via da política que o Largo Sr. dos Aflitos se transformou no Largo das Duas Capelas. Uma por devoção e orgulho, outra por amor aos votos, ou talvez, quem sabe?!, no cumprimento da mais íntima promessa eleitoral…


Belino Costa

11 de março de 2008

SENHOR DOS AFLITOS: A PÓVOA UNIDA (1972)


Os dias 8 e 9 de Julho de 1972 foram de festa grande para o povo da Póvoa de Bustos. Porque se realizaram, pela primeira vez, as festas em Honra do Senhor dos Aflitos, sendo inaugurada uma capela no Largo da Póvoa (hoje Largo Nosso Senhor dos Aflitos) mandada construir e custeada pelo povo.



A iniciativa partiu de uma comissão e acabou por envolver toda a população local, ainda que o pároco de então, António Henriques Vidal, não apreciasse o proliferar de pequenas capelas. Da falta de apreço pela iniciativa são bem reveladoras as curtas e irónicas palavras que então escreveu no Jornal da Bairrada: “ Os dias 8 e 9 de Julho são para as alegrias familiares da Póvoa em volta da capela do Senhor dos Aflitos”.
E aqueles foram mesmo dias de “alegrias familiares” porque o povo da Póvoa, mobilizado e unido, concretizava um sonho e, orgulhoso, fazia a festa. O espírito dessa experiência colectiva está bem presente numa das quadras que ladeiam a porta de entrada da pequena capela:



"Trabalho, amor e união
Esta capela é erguida
Símbolo de gratidão
Da gente da Póvoa unida.”

A construção da capela e a organização dos festejos, mais do que um momento de devoção, foi o afirmar do respeito pela memória de gerações passadas, porque se tratou de recuperar uma tradição entretanto perdida. A primeira capela dedicada ao Senhor dos Aflitos foi construída na Quinta Nova (no nº 10 da actual Rua Nosso Senhor dos Aflitos). Esse culto, presente em 1819, acabou por se perder no decorrer das primeiras décadas do século XX. E enquanto a imagem do Santo era recolhida em casa particular, a capela, situada em terrenos de partilhas, acabava abandonada.
Com suporte de ferro para a sineta, a nova ermida da Póvoa veio preencher uma lacuna nos costumes locais. Recuperada a tradição arranjava-se um novo lugar para o Santo, ainda que a comissão tivesse de comprar uma nova imagem de Cristo crucificado para colocar no altar.



“Nas horas de aflição
Tantos ais e tantos gritos
Rezemos uma oração
Ao Senhor dos Aflitos."

A festa ficou com data marcada para todos os segundos domingos de Julho. E assim tem acontecido desde então.

Belino Costa

10 de março de 2008

SENHOR DOS AFLITOS : A MULTIPLICAÇÃO DOS CRISTOS E DAS CAPELAS


Quando, em Setembro de 1810, o exército francês comandado pelo general Massena se confrontou com o exército anglo-luso comandado por Wellington, na serra do Buçaco, o povo de Bustos sentiu o cheiro da guerra e o desespero dos desprotegidos. O país confrontava-se com a terceira invasão francesa e o sofrimento parecia não ter fim. Nas ruas de Lisboa os pedintes cantavam versos resignados.


“É chegado a Portugal
O tempo de padecer,
Se te oprime a cruel França
Sorte melhor hás de ter”


Muitos refugiavam-se na crença sebastianista, outros erguiam as mãos para Cristo. Mas todos viram as suas preces recompensadas quando, em Abril de 1811, o exército francês foi obrigado a retirar de Portugal. Partiam os franceses, ficavam os ingleses, enquanto o rei permanecia lá bem longe, nas quentes terras brasileiras. E por cá tanto frio…


É nesta conturbada década que, por iniciativa particular, surge na Quinta Nova, então um pequeno lugar da Paróquia da Mamarrosa, uma capela erguida em honra do Nosso Senhor dos Aflitos. No altar não faltava a imagem de Cristo Crucificado.
Andou “perdida” tal imagem até que, recentemente, a actual proprietária a enviou para restauro, descobrindo-se que a peça exibia a data de 1819. Ao mesmo tempo, e não foi por acaso, um grupo de moradores da Quinta Nova organizava-se para erguer uma nova capela dedicada ao Senhor dos Aflitos, mesmo em frente ao local da antiga capelinha.
As obras vão adiantadas, a imagem do Santo está recuperada e a Vila de Bustos terá em breve mais uma capela dedicada ao Senhor dos Aflitos, comprovando o velho ditado de que “não há fome que não dê em fartura”.
É a história deste quase milagre da multiplicação dos Cristos e das capelas que o NB irá contar ao longo dos próximos dias.
Belino Costa

4 de março de 2008

SOBUSTOS - MILTON COSTA PRESIDENTE DA MESA DA ASSEMBLEIA-GERAL



O dia que confere o bissexto ao 2008 na SOBUSTOS fica registado com dois momentos significativos: o de eleição – Milton Costa vai presidir à Mesa da Assembleia; e o de reconhecimento – Aurélio Reis Pedreiras, sócio benemérito da instituição.Para a Mesa da Assembleia surgiu apenas a candidatura de Milton Costa. NB está em condições de afirmar que havia um interessado em concorrer ao lugar. Comentou-se que o ‘candidato que não foi’ anda a fazer currículo concorrer às próximas eleições autárquicas caseiras.
Do universo de 118 sócios com capacidade eleitoral, votaram 27, sendo 24 em Milton Costa, 3 votos Brancos e não tendo havido Nulos. (consultar gráficos 1 e 2).Tomada a posse com a prévia aprovação unânime da acta da assembleia eleitoral, Milton Costa agradeceu o ter sido eleito, de imediato chamou Isaura Vieira para completar a mesa e deu início aos trabalhos que decorreram com vivacidade e fluidez. Áurea Martins Simões apresentou os fundamentos das propostas para debate e Humberto Reis Pedreiras deu alguns esclarecimentos.
Os estatutos ficam como estão, uma vez que genericamente contemplam todas as variantes das prestações de serviços da instituição; a jóia para os novos sócios efectivos é reduzida dos 25,00€ para 12,50€; a direcção fica com capacidade legal para alienar, ou não, o terreno especificado na convocatória.
Por preencher cabalmente os requisitos necessários, Aurélio Reis Pedreiras foi elevado à categoria de sócio benemérito, a título póstumo. Um reconhecimento que dignifica a instituição.
Todas as propostas foram aprovadas por unanimidade.



ASSEMBLEIA COM NOVIDADES
Em outros assuntos, regista-se a abertura do novo pavilhão, destinado às crianças, que está a funcionar em pleno desde 21 de Janeiro com serviço de “ATL” e “componente de apoio à família de crianças da pré-Escola de Bustos”. Actualmente a SOBUSTOS serve 54 almoços a crianças.
A direcção anunciou que pretende fazer uma profunda remodelação no pavilhão dos seniores, criando melhores condições. Como implicam obras de grande vulto e de opção na escolha de materiais, brevemente os associados serão convocados para opinar e deliberar.

Milton Costa dirigiu a Sessão com solenidade e mestria. Mostrou possuir traquejo.

Notas à margem:
A Direcção recentemente eleita da ABC tomou posse. Deseja-se que “o machado de guerra” seja enterrado na próxima Assembleia-Geral...

A ''Biblioteca'' está a ser preparada para receber material informático. O serviço de internete regressa pela mão do PSD/Oliveira do Bairro.

sérgio micaelo ferreira

CONFRARIAS E LEITÃO ASSADO

A História
A partir do séc. XII eram usuais no reino as Confrarias ou associações de cidadãos dedicadas à caridade e assistência dos mais desfavorecidos dentre os seus.
Tal como as Corporações dos Ofícios, estas uma espécie de sindicatos medievais dos vários ramos profissionais, as confrarias representavam na idade média aquilo que passou a ser o movimento associativo e o corporativismo dos nossos dias.
A mais famosa confraria (em rigor, irmandade) foi e continua a ser a Santa Casa da Misericórdia de Lisboa, criada em 1498 pela mão régia de D. Leonor, rainha viúva de D. João II.
A grande distinção entre ambas as instituições medievais reside nos seus destinatários: enquanto as Confrarias estavam viradas para o seu interior – os confrades, que eram sempre profissionais do mesmo ofício –, as Misericórdias estavam abertas a todas as pessoas, sem qualquer discriminação de sexo ou profissões, classes ou condições sociais.

As confrarias dos nossos dias
Nos dias de hoje e com especial incidência na gastronomia, há confrarias para todos os gostos: do vinho, da cerveja, dos vários queijos, da chanfana, do bacalhau, da broa, das tripas à moda do Porto e até dos deliciosos maranhos, ou seja, de tudo quanto é bom de comer e beber.
Vive-se uma espécie de solidariedade gustativa, virada para a preservação dos sabores e paladares herdados dos nossos antepassados.
A capa ou gabão, o chapéu e a insígnia são os sinais mais marcantes dos confrades, preservando uma tradição que já vêm dos tempos medievais. Muito próprios são também os rituais que acompanham as suas reuniões ou “capítulos”.

Pois foi ao 30º aniversário e 2º Capítulo da Confraria Gastronómica do Leitão da Bairrada que eu e o meu confrade de escritório tivemos o prazer de assistir no passado sábado como convidados.
É do que vos proponho falar, aqui do soberbo Palace Hotel do Buçaco, paraíso terrestre onde teve lugar o evento.
Esta Confraria do nosso leitão congrega 33 fundadores, tudo gente dos concelhos de Oliveira do Bairro, Anadia, Águeda, Mealhada e Cantanhede, que vem estando na linha da frente pela criação da zona demarcada do leitão assado à moda da Bairrada. Como é bom de ver, nos seus objectivos estatutários está a defesa do nosso leitão assado e da sua confecção tradicional.
Foram dois os pontos altos do capítulo: a entronização de dois confrades - um de mérito e outro honorário - e a participação do nosso VIV’ARTE, sobre quem já dissemos muito
AQUI. Aconselho mesmo um clique na azulada hiperligação para ficar a saber quase tudo sobre tão boa gente das nossas gentes.
Sua Majestade, o Rei!
Todos as entradas e pratos servidos no Buçaco beberam a sua matriz nos ingredientes do famoso bácoro. Degustada a cabidela, foi com toda a pompa e circunstância medievais que deu entrada no magnífico salão nobre SUA MAGESTADE, O REI. Sim, ele mesmo, o nosso Rei, todo ele esguio e bem tostadinho pelo calor das vides dos nossos fornos, como mandam as regras e a boa tradição!

No meio de tão cativante convívio, confesso que me seduziu especialmente a intervenção do famoso mestre de cozinha, Chefe Helmut Ziebell, entronizado como Confrade de Honra.
Nascido em 1939 numa pequena vila de Áustria, o Chefe descende duma família ligada às artes culinárias. O fascínio por Portugal e pela sua culinária acompanhava-o desde pequeno, pelo que acaba por fixar-se entre nós em 1964 como cozinheiro do Hotel Ritz, onde termina a carreira como chefe executivo. É o único cozinheiro em Portugal com um prédio com o seu nome – o Prémio Inovação Helmut Ziegell.


E eis como, quase sem querer, se fala das novas pides
O Presidente da Direcção da confraria do delicioso bácoro, o sangalhense António Duque, resolveu terçar tímidas armas com os D. Godofredos dos nossos dias, esses personagens medievais que parecem ter renascido das cinzas e se dão ares de quem sabe governar o Reino.
Muito a propósito, lembrou o risco que corremos em perder o genuíno leitão assado, mercê da rigidez da legislação em vigor. Daí as perguntas que deixou no ar: que futuro terá a gastronomia tradicional portuguesa? Que será dos valores culturais dessa gastronomia?

Termino, lembrando que os regulamentos comunitários admitem uma flexibilidade das suas normas, chegando a apontar para as boas práticas de higiene em substituição da chamada “monitorização dos pontos críticos de controlo”.
Por exemplo, o Regulamento da Comunidade n.º 852/2004, relativo à higiene dos géneros alimentícios, admite que aquela flexibilidade “é também apropriada para permitir a continuação da utilização de métodos tradicionais em qualquer das fases de produção e em relação aos requisitos estruturais para os estabelecimentos.
Daí que o legislador comunitário convide os Estados Membros a estabelecer normas orientadoras que tenham em conta as especificidades de cada um deles.
Mas Portugal sempre gostou de se armar em bom aluno e daí a subserviência com que aplica às cegas os regulamentos comunitários.
E como não gostamos de fazer trabalho de casa, normas orientadoras que tenham em conta as especificidades de cada região e a diferenciação entre pequenas, médias e grandes empresas, nem vê-las, quanto mais lê-las!
Leva tudo pela medida grande, à boa maneira da pidesca ASAE!
Por este andar, não há confraria gastronómica que nos valha…

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oscardebustos