7 de fevereiro de 2008

GENTE DE TRABALHO


Há gente para quem o trabalho, mais do que uma necessidade, é uma forma de vida. Esses nunca têm férias, coisa de que já ouviram falar mas que não entendem para o que serve. Porque é o trabalho que dá sentido à existência que a organiza em ciclos sucessivos, impondo ritmos, tarefas, cuidados.

Todo o descanso, tal como o alimento, é mera necessidade orgânica. Também por isso não faz grande sentido essa outra palavra que dá pelo nome de reforma.
Há gente que nunca se reforma. Pode vergar-se o corpo, doerem os ossos, falhar a vista porque quem está habituado a sofrer, não se dobra, não desiste só porque é difícil, e custa, e dói. Envelhece o corpo, a determinação nunca.

O Nil Nunes Pardal, 85 anos e a mulher, Messília de Jesus, 79 anos, são gente dessa têmpera. Enfrentam cada dia com uma vontade férrea, ainda que a força já não seja a de outros tempos. Nada que os impeça de labutar de sol a sol, em conformidade com as supremas leis da natureza.

O trabalho foi moldando os corpos, cerzindo os rostos, construindo rugas intrincadas e complexas como romances. As mãos são agora habitadas por calos tão antigos que lembram outros tempos, evocam epopeias. Mas atenção, o passado também é coisa de agora. Em boa verdade, ainda que ao mesmo tempo, nem todos vivemos neste Tempo. A realidade é sempre uma questão pessoal, intransmissível, nada tem a ver com as notícias dos jornais ou da televisão. Estes ignoram por completo questões essências como a arte da enxertia e o milagre dos pés-mães. E nem suspeitam que os bacelos são os longos cabelos da natureza, que depois de cortados se transformam em cepas que dão as uvas, que dão o vinho…


Nil Nunes Pardal nasceu a 23 de Janeiro de 1923. É filho de Rosa Ferreira e Manuel Nunes Pardal que foi comerciante, artista amador e um famoso curandeiro que trouxe de África conhecimento empírico e uma colecção de livros de medicina. O Nil ainda hoje guarda “A História das Plantas Medicinais Portuguesas “, o único exemplar de uma colecção oferecida ao falecido Dr. Vicente.
Belino Costa

1 comentário:

  1. Anónimo00:42

    Ao Tio Neil, desejo-lhe saude e felicidades e que a data se repita por muitos anos.

    Jonine Barreiro

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