12 de dezembro de 2007

BAZAR UNIVERSAL: 24 ANOS DE POLÉMICA


No livro “Bustos Elementos para a sua História”, editado em 1983, Arsénio Mota, abordando a figura do Visconde de Bustos afirma:

“O seu palacete, construído no centro da localidade para aquela mesma data (Julho de 1908) (1), foi erigido no local onde antes existiu um seu estabelecimento comercial, na esquina defronte da capela e do celeiro desaparecidos. Segundo certas indicações, esse estabelecimento seria o “Bazar Universal”, do comerciante e pai do futuro Visconde, que uma arcaica foto, encontrada no palacete, mostra.” (pag.39)

Mais adiante na legenda da foto anteriormente referida lê-se: “Supõe-se que esta fotografia (muito velha, foi achada no palacete do Visconde) mostra o antigo estabelecimento comercial do pai de António Duarte Sereno. Viria a desaparecer para dar lugar ao palacete.”

Baseado numa fotografia encontrada fortuitamente, Arsénio Mota estabeleceu a suposição de que existiu no centro de Bustos um edifício comercial, o “Bazar Universal”, que foi demolido para dar lugar ao palacete.
Ao tempo esta teoria não foi bem acolhida por outros autores, como Vitorino Reis Pedreiras e Hilário Costa, tendo este, no livro “Memórias de um Bustoense”, contestado a teoria de Arsénio Mota:
“ (...) na última exposição fotográfica, efectuada a 18 de Fevereiro de 1983 (2), eu e alguns bustoenses notámos que nessa mesma fotografia ampliada, conseguimos ler em grandes e visíveis letras: Manteiga e ao lado “Bazar Universal”, vendo-se dos dois lados do edifício um largo que não condiz com as reduzidas dimensões do largo de Bustos.”



E assim se estabeleceram duas teorias em roda de uma fotografia “achada no palacete do Visconde”. A polémica ficou por ali, ressurgindo em Março de 2005, quando no blogue, “Bustos-do Passado e do Presente”, publiquei a foto do “Bazar Universal” com a seguinte legenda: “O Bazar Universal de António Duarte Sereno, antes de ser demolido pelo filho para ali construir o palacete”.
Para além de errar, ao transformar dúvida em certeza, a legenda duplica a asneira, trocando o pai, José, pelo filho António. Mas ninguém ligou a tais incorrecções, e o debate incidiu sobre a identidade da fotografia. O primeiro contestatário foi Óscar Santos que, na caixa de comentários, apresentou o contraditório:

“1-(...) A foto, se bem me lembro, esteve na famosa exposição de 1982 e a imagem acabou por ser atribuído à cidade de Seia e não a Bustos.
2- É bom não esquecer que o pai do Visconde chegou a Bustos em cima dum burro, a vender bugigangas, segundo me contava a minha avó e a tia Rosa. Por cá fez fortuna. O pai do Visconde começou por construir uma casa remediada de r/c e 1º andar a poente do actual palacete, casa esta onde viveu muitos anos o fotógrafo (e ex-boxeur) Sr. Dário Alves, pai dos nossos contemporâneos e amigos Gute e Vitor, este enfermeiro em Coimbra (há que chamá-lo à comunidade).
3- A loja do pai do Visconde era no mesmo local onde sempre esteve e que só veio a ser demolida pela ABC, quando se construíram as actuais instalações, depois de indemnizarmos o arrendatário (esfarrapei-me todo nas bem difíceis negociações!). Ainda nos lembramos desses tempos pré-colombianos...
4 Não acham que a foto revela um cosmopolitismo que Bustos não conheceria no séc. XIX?”



Perante estes argumentos Arsénio Mota respondeu: “Quem pôs em dúvida o que afirmei foi exactamente o Hilário Costa, no livro que publicou a seguir, mas lançou a dúvida sem lançar base mínima credível”.
Renitente, Óscar Santos acrescentou uma nova série de argumentos:
“A foto em causa (do tal Bazar Universal) chamou-me a atenção e pude falar com gente de idade (estávamos nos finais de 70) e ninguém se lembrava de qualquer Bazar Universal, apesar de ainda estarem vivas pessoas da era pré Palacete.
De resto, a foto aparenta situar-se num cruzamento perfeito, de 4 vias, quando só ali existe o entroncamento da rua do Cabeço com a 18 de Fevereiro.
E será que a rua do Cabeço era então tão larga e não a rua estreita que ainda conheci?
A foto foi tirada de cima: de que edifício, pergunto (e pergunta o Milton)?
Na altura (79/81), foi ponto assente que aquele edifício não era de Bustos, tendo alguém dito que se situava em Seia. Como facultei um bloco de apontamentos ao Ti Hilário, ele te-los-á usado no seu livro. Daí a tese do Ti Hilário, que coincide com a minha.”

Argumentos que não convenceram o autor de “Bustos, Elementos para a sua História”, que replicou avançando alguns pontos:

“2 - A foto que tantas dúvidas causa ao amigo Óscar parece ter sido tirada do lugar onde se ergue o prédio do meu tio Vitorino; lembre-se: antes existiu ali a loja do Pardal! Era de rés-do-chão, tanto quanto me lembro.
3 - Não se esqueça, para situar a tal foto, que a igreja velha tinha adro (a rua do Cabeço estreitava mais adiante) e que esse adro era espaçoso!”

E por aqui ficou a polémica de 2005. Entretanto a foto foi fazendo o seu caminho, sendo exibida em várias exposições. Surge agora editada num desdobrável sobre Bustos, assumindo assim já um estatuto de edifício histórico. Incontestado e incontestável, dada a chancela decorrente do retrato estar inserido num folheto oficial da Junta de Freguesia.

Belino Costa
(continua)

1- De acordo com inscrição na porta principal o edifício é de 1906.
2- A exposição teve lugar em 1982, como se pode comprovar lendo a página 8, do “Jornal da Bairrada”, de 5 de Março desse ano.

2 comentários:

  1. O folhetim do bazar continua, diz o Belino.
    Tá-se mesmo a ver que ele sabe mais do que nós e se prepara, quiçá, para desvender o mistério que envolve o curioso episódio da história (ou ausência dela) de Bustos.
    Fico em pulgas para saber o desfecho do imbróglio, o qual ia dando lugar a uma espécie de cisma papal, tantos foram os "papas" a dar opinião.

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  2. Anónimo22:38

    Verdade Ou Falsidade em Bustos, eis o Bazar Universal.

    N�o ser� apenas o OSKR e estar no meio da pulgaria � espera do 'happY ...' que a lupa do Belino Costa nos vai oferecer.
    A foto em quest�o 'teve a honra' de ser afixada na c�lebre exposi�o no Palacete, e ter sido vista por milhares de pessoas. Esse documento foi deixado ao deus-dar� do lixo ou est� bem guardado?
    O OSKR era director da ABC poder� dizer algo?
    s�rgio mcaelo ferreira,

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