20 de setembro de 2007

PARA LÁ DA POMPA E CIRCUNSTÂNCIA


Tive o prazer de estar entre os convidados que assistiram à Cerimónia de Homenagem e Transladação de Aquilino Ribeiro para o Panteão Nacional. Por coincidência coube-me um lugar ao lado de gente de Carregal de Tabosa, entre eles um guarda-rios, de que me escapou o nome, que falando do conterrâneo me confessou duas coisas essências. Que foi Aquilino Ribeiro que o ensinou a ler os rios e que, em Abril de 1974, a aldeia foi invadida por gente (“nunca se viu coisa assim lá no lugar”), chegaram em camionetas com o único propósito de ali celebrarem a liberdade celebrando Aquilino.




Envergando o fato domingueiro, ao lado mulher, o guarda-rios (na foto) bem podia ser um personagem de Aquilino, que nos seus livros teve o homem Beirão, a sua linguagem, os seus costumes, o seu carácter, como referência e fonte de inspiração. A Lisboa literária de hoje em dia, pequenina, tacanha e estrangeirada, serve-se disso para acusar o escritor de ter uma “escrita provinciana”, tentando assim minorar a importância da sua vasta obra. É a Lisboa mundana, pequeno-burguesa, envergonhada pela sua origem provinciana e campesina. Pobres deles!
Aquilino não só é um escritor maior com uma obra única, foi um cidadão empenhado na luta pelo ideal republicano e pela democracia. A sua vida, a prisão e o exílio, fizeram dele um símbolo da luta anti-fascista, bem justificaram as camionetas que chegaram a Carregal de Tabosa logo depois do 25 de Abril.

A cerimónia de ontem, organizada depois de votação unânime da Assembleia da República, foi o reconhecimento de um dos símbolos maiores da cultura nacional. E ainda que nenhum dos solenes oradores disso tenha dado conta, também foi uma homenagem ao homem das Beiras, e a todos aqueles que nada sabem de literatura, mas são capazes de ler os rios e até as águas das fontes.

Belino Costa

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