11 de setembro de 2007

11 de Setembro: um Bustuense em NY

Todos recordamos o Mário do Abel dos tempos em que era o único tractorista de Bustos. A par dele, só o João do Lombomeão. Estávamos em meados dos anos 60 e bem me lembro do Mário deixar o empoeirado tractor à porta do Piri-Piri enquanto jogava umas suecadas. O vício convidava e viviam-se tempos em que havia um tempo para tudo. Usando as palavras dele, se perdia umas horas do dia, logo as recuperava à noite, lavrando à luz dos faróis e aproveitando para escapar às horas do calor abrasador.
O Mário, filho do Ti Abel da Tanoeira, emigrou em 1974 para a América, onde continuou a trabalhar com máquinas (rectro-escavadoras, giratórias e bulldozers). Foi viver para New Rochelle, Estado de New York, ali pertinho da "Big Aple" ou Grande Maçã, designação por que é conhecida a maior cidade dos States.


Quando as famosas torres gémeas ruíram o Mário estava a trabalhar na ponte George Washington, a cerca de 4/5Km do fatídico local. Ocupava-se na reconstrução das rampas de acesso à conhecida ponte. Construída em 1931, será a ponte mais movimentada do mundo: são 2 tabuleiros sobrepostos, com 6 pistas cada um, fora as pistas pedonais e para bicicleta, num vai-vem constante de gente, carros e bikes.
O Mário ainda se lembra da hora a que o 1º avião suicida embateu numa das torres: 8 e 45, hora local.

Cedo o nosso Mário foi chamado a trabalhar na remoção dos escombros das torres gémeas e na limpeza do local, que passou a ser designado por "Ground Zero". Foi aí que, durante 7 meses, labutou como responsável pelas cargas do contorcido ferro, que o cimento, esse, ficara parcialmente pulverizado, tal o poder destrutivo do impacto dos 2 aviões.
Guardou desse tempo algumas recordações físicas, sobretudo notas semi queimadas do Tio Sam, distribuídas por familiares mais chegados. Pena ter deixado nos States todos os registos do penoso tempo que ali viveu.
Foram 7 longos meses de labuta constante. O turno dele iniciava-se às 6 da tarde e terminava à mesma hora da madrugada e o vai-vem das grandes máquinas era constante.
Não é fácil arrancar palavras ao amigo Mário: "Contado não é nada. Só quem viveu aqueles momentos pode ter uma ideia do que se passou".
As máquinas escavaram até cerca de 40 metros abaixo do nível do solo, com limpeza do próprio metropolitano que passava por debaixo e onde existia uma estação do metro destinada a servir as Twin Towers.
Ao que me contou, o local vai albergar lojas para o pequeno comércio, bem como uma única torre, a "Ground Zero" (ler texto aqui), ainda mais alta que as anteriores e ainda um cemitério/memorial dedicado às cerca de 3.000 vítimas da criminosa destruição das famosas torres.
Foram muitos os portugueses envolvidos na limpeza do fatídico local; seriam a maioria, a par duns quantos italianos e espanhóis.
De Bustos, só o nosso Mário, como quem lembra que estamos cá para o que der e vier. E que a desgraça não nos deixa ficar de braços caídos.

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OSCARDEBUSTOS

1 comentário:

  1. Anónimo00:03

    EL CID XL.
    Muito oportuna a tua intervenção em dois domínios.
    1 -. Trouxeste o americano e bustuense Mário Nunes à janela do NB. O desmonte dos destroços acumulados no fundo das torres gémeas, por certo deverá ter provocado estados de angústia que não irão desaparecer.
    2 – A colagem da entrevista do arquitecto e judeu(?) Daniel Libeskind à DW-WORLD.
    Da entrevista retirei excertos que poderão ter interesse nos palcos dos decisores locais (Bustos, digo Sobreiro e arredores)
    E Siga a RusGa


    "Em entrevista à DW-WORLD, o arquiteto Daniel Libeskind fala sobre o desafio de reconstrução do Ground Zero, local dos atentados em Nova York,..."
    5555555
    " ...decidi-me por não construir nada sobre este terreno. Pois não se trata de "um negócio qualquer". Não se deveria construir nenhum edifício sobre o local, como muitos sugeriram."
    €€€€€€€€€€€€€€€€€€€€€

    "A lembrança é possivelmente a dimensão mais profunda da alma humana. Sem ela não poderíamos saber para onde vamos e de onde viemos. Por isso, acredito na importância da memória em qualquer projeto arquitetônico."
    §§§§§§§§§§§§
    sérgio micaelo ferreira

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