6 de junho de 2007

Alfaces e batatas [ ambiente tem um dia]

Num grupo sentado a uma mesa no café alguém apontou para um casal que passava na rua em cima do tractor e comentou:
- Ontem vinham os dois do mercado da vila bastante desanimados. Não tinham conseguido vender a sua alface. Então eu disse: Deixem lá, dêm-na de comer aos vossos coelhos! E sabem o que me responderam? Oh, isso não! Porquê? Ora, porquê! Porque os coelhos morriam... Respondi-lhes: E queriam que os fregueses comprassem e comessem a alface que vos matava os coelhos?!... Bonito, sim senhor!
Estalaram risos. Um outro elemento do grupo lembrou a propósito: - À beira da minha casa há um terreno que o dono, vocês conhecem-no, aproveita para semear batatas, sempre batatas. Pois ele e a mulher não se cansam de aplicar produtos e mais produtos em doses reforçadas. Encharcam tudo. Gastam dinheiro e trabalho, sim, mas depois ali é batatas até dar com um pau. Uma vez falei-Ihes: Caramba, vocês carregam à bruta nos tratamentos, não seria melhor para a vossa saúde pouparem em tantos químicos? Oh, não. Estas batatas são todas para vender. As que são para nosso consumo estão no nosso quintal e com essas temos cuidado...
Um conterrâneo, que residia na cidade, ouviu a conversa e considerou:
- Até quando, num país dito civilizado, produtores de alimentos vendidos no mercado para alimentação humana vão poder continuar escondidos e sem nome, sem assumir as responsabilidades pelos danos que provocam?

Arsénio Mota, Recordações do Berço, edição do autor, 2003. p. 62

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