31 de julho de 2006

“O POMPEU” NO “DIÁRIO DE NOTÍCIAS”




Na terra do leitão, o frango também faz história. Na Malaposta, meia dúzia de quilómetros a norte da Mealhada, nas instalações da 16.ª "estação de muda" da primeira estrada que ligou Lisboa e Porto. Nesta antiga mala-posta, restaurante há mais de 40 anos, há bom leitão, naturalmente. Mas não é ele, o bácoro assado à moda da Bairrada, que faz com que muitos automobilistas abandonem a auto-estrada e regressem, alguns minutos, à velha Nacional 1 (EN1/IC2). O motivo do desvio é o frango de churrasco do Pompeu.O emblemático prato do Pompeu dos Frangos faz, frequentemente, esquecer as suas outras especialidades maiores: o arroz de miúdos e a costeleta bovina. Uma injustiça, reconhecem mesmo os incondicionais apreciadores do frango de churrasco. Como pouco justo será reduzir o res- taurante à cozinha. O acolhedor espaço, feito a partir dos aposentos da que terá sido a maior mala-posta (inaugurada em 1857) ao longo dos 300 quilómetros entre as já então duas maiores cidades do país, também é responsável pela fama da casa.As suas salas, contando, em painéis de azulejos (fiéis cópias dos expostos no Museu dos CTT), a história das "estações de muda", também explicam a projecção do restaurante. E de espaço de tertúlia, cada vez, porém, menos cultivado, apesar da fidelidade que mantém ao seu ambiente, de granito e madeira, de amplas portas e janelas. Faltam Miguel Torga ou Fernando Valle, entre muitos outros. Mas felizmente ainda há quem continue a apreciar boa mesa em ambiente agradável.O molho que tempera os frangos já não tem o dedo do Pompeu (1920-1992). Mas continua igual, garantem os clientes mais antigos e fiéis, lembrando que o filho do fundador do restaurante desde muito novo substituía o pai nessa e outras tarefas. O crescimento e decoração da casa, aliás, foram - sempre com o apoio do pai -, obra de Carlos Aires, que desde cedo revelou ter herdado do pai a extraordinária sensibilidade para a gerir.Carlos Aires, 59 anos - embora lamentando não ter estudado, "pelo menos mais dois anos", no então emblemático Colégio de Nun'Álvares, em Tomar -, reconhece que a sua vida se confunde com a do pai, no restaurante, inaugurado em 20 de Novembro de 1963. "Mas na véspera, pressionados por alguns clientes, já servimos", recorda. Clientes antes de a casa abrir?

Isso mesmo. A história do Pompeu dos Frangos começou antes, em Bustos, a 14 quilómetros da Malaposta.O Pompeu "nunca gostou muito da agricultura e, assim que pôde, mudou de vida". Abriu um café na aldeia, que, então, tinha três médicos e era, por isso, bastante visitada pelos na altura designados delegados de propaganda médica. Uns e outros frequentavam o café, mas lamentavam não ter uns petisquinhos. O proprietário fez-lhes a vontade e o café acentuou a vocação de ponto de encontro de amigos. Um deles, uma noite, apareceu lá, com "um frango roubado", desafiando o dono da casa a assá-lo, no fogareiro doméstico, e a temperá-la com molhos africanos. Pela sua origem ou tempero, "o frango não ficou bom nem mau", mas Pompeu ficou com a certeza de que, corrigindo métodos e temperos, conseguiria melhor. E conseguiu. De tal modo que o frango, apesar de confeccionado artesanalmente, passou a ser referência do café.O sucesso do churrasco foi tal que Pompeu teve mesmo de ceder à pressão dos amigos e deslocar-se para junto da Nacional 1, para a "estação de muda" (então completamente abandonada) que dá o nome à povoação da Malaposta. Dona Nina, sua mulher (recentemente falecida), resolveu, entretanto, dar utilidade aos miúdos que, em quantidades crescentes, sobravam. E nasceu o arroz de miúdos, melhor ainda, segundo algumas bocas, que os frangos que o sugeriram.

In “Diário de Noticias”, 30 de Julho, 2006

26 de julho de 2006

GENTE DA NOSSA GENTE

À sua maneira, Ulisses Crespo vai escrevendo sobre Bustos e os Bustuenses.
Publicou em 2004 os seus “Lustros de Bustos”, epopeia em versos jocosos sobre gente da nossa terra. O Arsénio Mota chamou ao estilo “anedotário aldeão”. Não admira: Bustos está cheio de histórias chistosas, onde, a par da maior imaginação, imperam o humor e a graçola.
Recentemente, o Ulisses divulgou um opúsculo a que chamou “Crónicas de Bustos”, dedicado à “gente da nossa gente”.
O pequeno texto tem o propósito de lembrar o centenário do nascimento do nosso Hilário Costa, Amigo que quis evocar bem a tempo dos cem anos do seu nascimento (12 de Março de 1907).
Escreve o comendador Ulisses:
…nesta singela homenagem, reconheço a singularidade do seu carácter, a magoada saudade dos seus versos e, ao fazê-lo, tenho como desígnio evitar que a morte não seja «sem recurso» e a memória da sua passagem pela terra definitivamente amortalhada pelo esquecimento.
Acredito que uma das poucas obrigações dos vivos, no meu humano entender, é preservar a memória dos mortos, não apenas em epitáfios os quais apenas inscrevem o começo e o fim de uma vida, senão em transmitir o legado ou legados que distinguiram a sua vida de homem"
.
Tem toda a razão, porque Hilário Costa é um dos muitos esquecidos das chamadas autoridades locais, que preferem dar o nome de ruas a gente escancaradamente medíocre, sem história, sem estilo, sem engenho e, pior que tudo, sem obra ou arte que se veja ou tenha visto algures no passado de Bustos.
Convenhamos: a democracia também arrasta muita mediocridade, que isto dos votos tem muito que se lhe diga...
*
Termino lembrando um pequeno verso de Hilário Costa [1]:
Nunca me julguei ser grande.
- Sou da minha estatura.
Mas se hoje sou pequeno
- «Crescerei» na sepultura!

[1] Verso de “última hora” do seu livro “Árvore Genealógica da Família Costa”, publicado em 1988.
*
oscardebustos

JUNTA DE FREGUESIA ESQUECEU-SE DO PERÍODO DE NIDIFICAÇÃO DE AVES

24 de julho de 2006

FÓRUM 2006: BALANÇO

Não faltou honra nem beleza ao nosso último «Fórum de Bustos», este ano realizado a título excepcional no restaurante Pompeu dos Frangos, na Malaposta, justamente para evocar aquele bustuense inesquecível.
A organização pecou por escassez de divulgação, devo confessá-lo como culpa própria, por isso foram menos numerosos os inscritos em prazo útil, mas por fim tudo se compôs a contento geral. Estiveram 63 comensais nas mesas, esgotando a lotação máxima.
As senhoras aderiram desta vez de forma significativa e até se dispõem agora, graças à boa vontade da Dina, filha da Esmeralda e irmã do Belino, a organizar o «Fórum» em 2007! Mereceram por tudo isto abundantes aplausos.
É claro que a organização de tal iniciativa não é complicada. Dá apenas um pouco de trabalho e muita satisfação. Todavia, recolhendo a experiência das jornadas anteriores e tentando dar-lhe uma resposta, diria que valerá a pena contemplar os seguintes pontos:

Melhorar o mais possível a divulgação através de cartazes, notícias, convites directos;
Criar uma pequena ficha de inscrição no almoço a preencher e a assinar pelos futuros participantes (a guardar pela organização);
Pedir a quem preencher a ficha que indique o nome pelo qual deseja ser nomeado e reconhecido no «Fórum» (há alcunhas que valem mais que nomes);
Fornecer a cada inscrito um pequeno autocolante para exibir na camisa ou no casaco onde conste o seu nome bem legível;
Diligenciar para que se reforce cada vez mais a abordagem das questões mais gerais do desenvolvimento da nossa terra.

Com estas pequenas inovações, os nossos almoços de convívio e fraternidade comunitária avançarão inegavelmente em resultados e em real eficácia de modo a evidenciar o sentimento bairrista, a participação e a educação cívica dos Bustuenses.

Arsénio Mota

20 de julho de 2006

GAFOL - HOUVE POR BEM


OS LISOS (GAFOL) – EM BUSCA DE TERRENO PARA A ESCOLA

Em 1978, a mobilização popular arregaçava as mangas, enquanto as moscas marcavam pontos no tecto, na resolução de algumas carências locais.
Multiplicavam-se associações, criavam-se comissões, reanimavam-se clubes e os partidos animavam a disputa política. Nos cafés, as cadeiras atropelavam-se à volta das mesas cheias de copos de cerveja ou chávenas. No Piri-Piri, o jogo de xadrez, introduzido pelo Dr. Assis Rei, dava lugar aos prolongados e vivos bate-papos.
O presente e o futuro imediato fazia parte da ementa do que faltava na terra. A rua Augusto Costa continuava intransitável, apesar do povo da Póvoa já ter comparticipado com algum dinheiro. O alcatroamento não se fazia … e a justa indignação montava arraias...
Junto ao Rossio da Quinta Nova, a Rua Senhor dos Aflitos mais parecia a superfície lunar com as suas crateras. O graffiti “Avenida 25 de Abril” ainda hoje bem visível na parede da casa do Prof. Nelson Figueiredo espelhava o descontentamento pela apatia do poder local pelo absentismo no arranjo do seu pavimento.

Manuel Simões da Cruz (cacique do CDS/BUSTOS) abria acesa polémica com o PSD - o partido de maior implantação local – ao contestar a construção do cemitério novo.

A Junta de Freguesia[1] de Bustos reunia[2] extraordinariamente para “resolver e apreciar o programa do dezoito de Fevereiro”
...
Entretanto no Piri-Piri, durante a bica, a esquerda de raiz republicana seleccionava a fotografia com o torreão para cartaz do "18 de Fevereiro", que atravessou fronteiras e ainda hoje se mantém um ícone do genuíno Dia de Bustos, apesar da persistente decadência que tem acompanhado as celebrações desta efeméride.

Era o tempo em que a Junta de Freguesia contactava indistintamente os agricultores[3] que tivessem «máquinas com atrelado» basculante «para que oferecessem de boa vontade os seus serviços» para se poupar verbas com os fretes de saibro (ou areão) destinado ao conserto, dos caminhos e do recinto da feira…
Ainda não se vislumbrava o crepúsculo matinal da era do alcatrão.

A solicitação dos CTT-TLP, a Junta de Freguesia propusera um terreno situado a poente da Escola Primária do Corgo que não viria a ser instalado um novo serviço daquele serviço.

Apesar da «guerrilha» intrapartidária (CDS/PSD), a vontade colectiva sobrepujava o desejo do interesseiro. Comissões ad hoc apoiadas por compartes apresentavam petições à Junta de Freguesia a requerer alargamento ou abertura de caminhos. A ajuda popular e/ou de empresas completavam o esforço camarário e os caminhos nasciam.

Por exemplo, Manuel Moreira Ferreira e Manuel de Oliveira Sol constituem uma comissão a fim de solicitar abertura do caminho do bairro da Fonte da Barreira até à rua do Cabeço próximo da casa do primeiro peticionário. E para reforçar a petição, fizeram-se acompanhar de “uma lista de todos os inquilinos dos terrenos aonde diziam estar de acordo com a abertura do caminho. Estes trabalhos foram feitos grátis, mas tudo isto se deve às firmas Sotelha e Barrol”, que ofereceram o serviço de máquinas[4].”

Bem no centro de Bustos, meia dúzia de jovens com sangue na guelra animava a tertúlia da Barbearia SCHIK[5], instalada na casa da Sr.ª Amândia (viúva de Herculano Silva).
O Carlos Alves, já mestre tarimbado em múltiplas funções directivas, massagista, marcador de campo da UDB, membro da Comissão Pais e Encarregados de Educação e secretário da Junta de Freguesia, sentindo a carência de instalações da escola, lança para o ar a ideia de angariar fundos para a compra de um terreno destinado à construção de uma “Escola Nova”.

Clermando Caldeira[6], Filinto Augusto de Jesus Lourenço, Ilídio Rosário (o Lord)[7], Luís Jorge Ferreira Rei (Hoss), Luís Jorge Grangeia, Manuel Ferreira dos Santos (Manuel Caldeira), Manuel Marco, (designados por ordem alfabética) juntam-se a Carlos Alves e criam o GAFOL[8]. A responsabilidade da Tesouraria recaiu sobre os mais novos, Luís Jorge Grangeia, Manuel Marco (e ?)que abriram conta no Banco FONSECAS & BURNAY, agência de Vagos.

A área de terreno a adquirir deveria estar localizada no centro geográfico da Freguesia e fora da zona mais cara. Para a angariação de fundos propunham-se a desenvolver actividades de convívio e diversão. Realizaram um (?) baile no salão do 1º andar no Café Primor, no Sobreiro. Foi um sucesso. Entretanto o GAFOL viu cancelada a licença de organização destes eventos, por interposição do Bustos Sonoro-Cine, entidade possuidora de alvará. [apenas era concedida um alvará por freguesia).
Entretanto, o fim do ano estava próximo. ‘OS LISOS’ atiram-se à organização da passagem de ano com baile servido no salão do Duarte Nuno no Sobreiro. O sucesso foi de tal ordem que o proprietário daquele amplo espaço, aproveitando o registo de alguns terrenos do Sobreiro na área da Palhaça, consegue obter facilmente o alvará para a exploração de bailes.

Para além destes eventos, o grupo também angariou alguns fundos através da exploração de uma tasquinha de comes-e-bebes instalada no largo da festa [do São João? ou do São Lourenço?] e de uma quermesse[9]. ‘Chegámos a ir a Alcobaça pedir peças de louça', … 'mais tarde, oferecemos à comissão da Associação de Beneficência e Cultura de Bustos’ (ABC) o material que sobrou …” recorda Carlos Alves. E que não era assim tão pouco.

Os lucros eram depositados na conta bancária e a comissão ainda hoje terá ficha bancária …
Entretanto assola uma onda de emigração que atinge alguns elementos, Carlos Alves e Filinto Lourenço, para a Venezuela; Manuel Marco para a Austrália e Luís Jorge Grangeia ingressa na Universidade, e vai para Coimbra. Esta sangria provoca o adormecimento do GAFOL.
Da sua efémera actividade d'OS LISOS, há também a realçar o apoio [em dinheiro] para a construção do pavilhão gimnodesportivo do Colégio Frei Gil.

O GAFOL é um símbolo de uma época em que estava arreigado o espírito associativo e a dedicação ao serviço comunitário não estava à espreita da colheita de mordomias ou de quaisquer benesses.

Dos vários contactos havidos com os intérpretes da comissão angariadora dos fundos, ressaltou o o entusiasmo quando recordavam peripécias ocorridas no GAFOL. Por exemplo, Manuel Marco recorda as reuniões em casa de um ou de outro a programar as actividades do grupo e que no fim terminava com um copito de vinho…
A Luís Hoss, ao Filinto, ao Manuel Caldeira, ao Luís Jorge (Dr.), a Carlos Alves e a Manuel Marco um bem-haja pelas informações pesquisadas na memória e que tornaram possível alinhavar estes apontamentos.

Apesar da curta duração, o GAFOL tem um encontro com a história de Bustos.

sérgio micaelo ferreira
...........................
[1] 1ª Junta de Freguesia da 3ª República democraticamente eleita em 12.12.1976 por sufrágio universal e directo. Era inicialmente composta por Alberto de Oliveira Cruz (Presidente), Carlos Alberto Ferreira Alves e Alcino Caetano da Rosa

[2] Sessão de 13.02.1977.

[3] Entre várias ofertas constam (por ordem alfabética) Adélio Reis Pedreiras, Alberto Santos, Alcina Caetano da Rosa, António Mota, António Romão, Aristides da Rita, Asdrúbal Neto, Diamantino Caldeira, Fernando Figueira, Humberto Reis Pedreiras (O Chico), Ismael Nicho, José Manuel Domingues (Prof.), José Simões da Costa (Zé dos Moras), Manuel Oliveira, Manuel Pires, Necas Cipriano, Virgílio Luzio. A Sotelha e a Barrol também colaboraram com máquinas. (s.e.&o.)

[4] Acta da Junta de Freguesia, 04.12.1978

[5] A partir das lâminas SCHIK, Manuel Martins de Oliveira (carteiro) sugeriu a designação 'chic' a Carlos Alves.

[6],[7] Já falecido
[7] GAFOL – Grupo Angariador de Fundos ‘OS LISOS’.

[9] Informação confirmada por Carlos Alves, Luís Hoss e Manuel Marco.

O REI PASSEIA-SE NÚ?


O Circo do Futebol Mundial’2006 fechou para balanço. Durante mês a máquina publicitária trabalhou pra a bandeira dos trinta talentos. Não houve sítio, comentador, beco, claxon, político, telejornal, penitente ou cerveja, que não tivesse tatuado o imaginário com rotundas vitórias sobre qualquer adversário. Mas a euforia esfumou-se num atchimm!... A quarta posição alcançada soube a frustração, e foi visível para aqueles que já tinham posto as esporas para cavalgar sobre os dorso das vitórias da selecção de caravaggio.

A recepção à equipa talentosa no semi-cheio estádio do Jamor não teve aquele calor proporcional ao calor atmosférico … uma boa parte de portugal preparava-se para regressar à realidade esquecida durante um mês.

Entretanto o circo implodia quando sofreu o impacto da notícia do pedido de isenção do IRS `para o prémio de passagem da equipa das quinas às meias-finais.

Os ‘seleccionados’ do banco de leite, do banco alimentar, da cáritas, da conferência de S. Vicente de Paulo, dos sem-abrigo, dos meninos dos “bairros de lata”, ... ficaram abanados. O sonho da vã glória levou um balde de água fria pela espinha abaixo. [Os jogadores liderados por Figo, um senhor embaixador, não mereciam estar envolvidos nesta disputa ainda que tenha cariz legal, quase legal ou pretensamente legal, não deixa de ser iníqua à luz da exclusão/inclusão social.]

Mas o pacato portugal vem a sofrer novo abalo telúrico agora provocado pelo ministério da educação. Sem mais quê nem para quê, é ordenada a repetição dos exames de Física e Química do 12º ano e é acompanhada de uma benesse - os alunos mantêm o direito de se candidatarem na 1.ª fase ao ensino superior.
Que norma legal publicada antes da celebração dos exames sustenta a repetição destes exames e lhe confere a regalia do aluno se candidatar na primeira fase do acesso ao ensino superior?

Será arbitrariedade?
Ou pretende-se despoletar a contestação estudantil?
Ou o rei passeia-se nú?
ou ...
Sérgio Micaelo Ferreira

18 de julho de 2006

CEGADA'2007 - CARLOS ALVES REVOLTA

.
Usas másc’ra, é bom usá-la,
Se a rasgares, fazes mal;
Terás tempo de rasgá-la,
Quando acabe o Carnaval.

António Aleixo, este livro que vos deixo …,
notícias editorial, vol. I, 15ª edição, 1999


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12 de julho de 2006

UDB & OBSC CACHIMBAM A PAZ NO SUBMUNDO?

..

PALHAÇA - JUNTA DE FREGUESIA RETOMA EDIFÍCIO DOS CORREIOS



O regresso do antigo edifício dos Correios da Palhaça à posse da Junta de Freguesia vem anunciado na local do Jornal da Bairrada, de 5.07.2006) “Palhaça – Junta de Freguesia faz doações”.
Eis o teor da coluna:

“Ao fim de alguns anos, o edifício dos correios volta, finalmente, a ser património da Junta de Freguesia da Palhaça. O edifício que, em 1929, altura da conclusão da obra, custou à junta de freguesia 24 contos e que teve de ser entregue à administração dos correios por obrigação da Lei do Estado, passa novamente para propriedade da freguesia "(…)
A notícia merece o seguinte comentário:

1) O retorno dos «correios» da Palhaça à posse da Junta de Freguesia, em minha opinião, ficou a dever-se ao alerta lançado por Carlos Braga, fundamentado nos seus trabalhos de pesquisa documental.

"Alguém de bom senso soube acautelar para o futuro os interesses da sua terra.75", escreveu Carlos Braga.
Pela oportunidade, NB edita um excerto produzido por Carlos Bragaa, onde fundamenta a devolução do edifício dos correios à Junta de Freguesia da Palhaça.

srg sugere que ouçamos Carlos Braga:

"UM NOVO EDIFÍCIO PARA OS CORREIOS

“in Carlos Braga, Palhaça – História dos Espaços Sociais e Comunitários [séculos XIX-XX], Edição da Junta de Freguesia da Palhaça, 2003,
pag.s 118 – 120”
Problemas com o proprietário da casa onde estava instalada a estação telégrafo-postal – que não estava interessado em continuar com o arrendamento – levaram as autoridades políticas locais a equacionar a construção de um edifício públíco para esse fim. O problema era grave: faltando casa, a estação corria riscos de ser extinta na freguesia.
Em 1926 a Junta oferece ao Ministério do Comércio a quantia de 10 000$00, «não sendo preciso grande edifício, nem muito luxuoso».70 Em 1928 não só mantém essa oferta, como ainda oferece mais 2 000$00 e o terreno para a construção. Este novo esforço da Junta representava «não só a vontade de auxiliar o Governo, mas também o desejo de que não seja extinta esta Estação que muita falta faz, sobretudo nos dias dos grandes mercados, 12 e 29 de cada mês».71

O novo edifício, que custou à Junta 24 contos, foi sendo construído ao mesmo tempo que o das Escolas Primárias. Como o seu custo era muito menos dispendioso, foi concluído quase 4 anos antes daquele. Abriu ao público no dia 15 de Outubro de 1929. A inauguração fez-se no. domingo seguinte, dia 20, com a presença «da música excomungada [a Banda do Troviscal] executando belas e agradáveis peças do seu belo reportório».72

Nos termos da Lei do Estado era obrigatório fazer a sua entrega à Administração dos Correios. Assim aconteceu, mas as autoridades locais exigiram que no acto da entrega ficasse consignada a cláusula seguinte: «se em qualquer tempo e por qualquer motivo for retirada deste lugar a repartição dos correios e telégrafos, o edifício volta para a posse da Junta».73 Ambas as partes concordaram com esta cláusula de reversão. Por isso faz parte integrante da escritura, a qual refere que a propriedade doada não pode «ser pelo estado destinada a outro fim que não seja aquele, ficando a cargo da [entidade] doadora a conservação e reparação, interior e exterior, do referido edifício doado».74

Como os CTT se aprestam para mudar de espaço físico, passando a funcionar em edifício arrendado, num lugar um pouco mais central e também mais espaçoso e funcional, este documento assume particular relevância.

Tudo indica que o edifício desactivado pertence à freguesia da Palhaça, pois deixa de cumprir as funções para que foi criado. Alguém de bom senso soube acautelar para o futuro os interesses da sua terra.75"
[Notas]

"70 Oficio n°, 9, 26.09.1927, dirigido ao Ministro do Comércio e Comunicação.
71 Oficio n°. 22, 04.08.1928, dirigido à Secção Electrotécnica da Administração-Geral dos Correios e Telégrafos - Porto.
72 O Democrata, 02.11.1929.
73 Ver oficio n°. 43, de 30.08.1929, para o Director-Geral dos Correios e Telégrafos - Lisboa.
74 Ver «Doação que faz a Comissão Paroquial Administrativa da Palhaça ao Estado., 23.09.1929. Escritura lavrada no Segundo Cartório Notarial de Aveiro.
75 Sobre esta questão ver Carlos Braga, .De quem é o edificio dos Correios?», Jornal da Boirrada, 20.12.2001, p. 14.
"

10 de julho de 2006

UDB 2005/2006 – RECONHECIMENTO, AGRADECIMENTO & APELO

...
B. Santos Costa conhece bem o dia-a-dia da formação dos escalões mais jovens da União Desportiva de Bustos. A acção pedagógica desenvolvida pelo «Mister» Daniel Santos mereceu a BC o envio de um memorando à Direcção do ‘UDB’ que NB tem o prazer de editar.
(srg)
---
Exma. Direcção da
União Desportiva de Bustos

Após três anos consecutivos acompanhando os atletas na deslocação à Coruña, sinto a necessidade de transmitir o que penso: foi o melhor ano.

Não por termos sido novamente campeões, mas por ter existido melhor organização, mais convívio, mais união de grupo e melhor apresentação da equipa.

Dizem que foi por ser um grupo pequeno. Talvez, mas eu acho que tudo isto foi possível, graças a uma pessoa – Daniel Santos, o "Mister" dos Infantis "B".

Além de ter demonstrado trabalho dentro das quatros linhas, ensina aos atletas princípios fundamentais: respeito mútuo, trabalho de grupo, motivação, coragem e amizade. Conseguindo em apenas um ano, criar um espírito de coesão entre atletas e directores, capaz de ultrapassar determinados obstáculos.

Não quero deixar de agradecer ao Sr. Vicente que formou e treinou esta equipa durante dois anos, e à Direcção por ter apoiado e confiado no nosso "Mister", que representa uma mais valia para União Desportiva de Bustos. Convencida que com pessoas como o Daniel, a U.D.B. está no bom caminho, espero que dê continuidade ao excelente trabalho que desenvolveu ao longo de toda a época desportiva.

Agradecendo a oportunidade que tive de fazer parte do grupo e o respeito e consideração que sempre me dispensaram.

Sempre ao vosso dispor,
B.C.
Bustos, 29 de Junho de 2006

UDB RENOVA-SE

Bustos prepara-se para inaugurar o seu relvado sintético. As obras vão adiantadas e espera-se que fiquem prontas por altura dos festejos de S. Lourenço. O que significa que a miudagem vai deixar de jogar na lama ou no meio da poeira.
Com esta obra, a direcção da UDB vai dar destino à verba de 200.000 euros disponibilizada pela Câmara e que se previa inicialmente ser destinada ao novo complexo desportivo.
Se o dinheiro for elástico teremos também uma completa renovação dos velhos balneários.
O espaço do polémico novo campo vai servir para treinos e alguns jogos, razão porque o piso foi tratado para esse fim.
*
Mas a grande novidade está nas novas instalações sociais, que o velho campo Dr. Santos Pato não servia para as encomendas. Paredes-meias com o Sub Mundo, ali à entrada da feira do Sobreiro, passámos a ter a nova sede do clube com secretaria, ginásio, sala de musculação e até um pequeno bar.

A sala de musculação já funciona diariamente numa 1ª fase (dedicada à pré-época) destinada aos infantis A, iniciados e juvenis, em regime de 2 aulas de 40 minutos/cada por semana, com direito a monitora formada em motricidade humana. Com o início dos treinos a miudagem passará a ter semanalmente 1 aula de musculação e outra de hidroterapia (esta em Oliveira do Bairro).
Neste momento está em avaliação a massa muscular dos pequenos atletas (peso, altura, idade) para efeitos de determinação da carga física a que podem ser sujeitos.
Os escalões das pré-Escolas, Escolas e Infantis B vão ter avaliação dentária obrigatória.

Tanto cuidado e profissionalismo deve ser efeito da espiral de sucessos da nossa selecção nacional.
Esperemos que a Sra. Câmara, pela mão do empenhado vereador António Mota, exceda as expectativas, que já é tempo de olharem para um clube com mais de 200 praticantes, ainda por cima vizinho desse fantástico alforge de atletas que é o Colégio, um dos maiores e dos mais completos estabelecimentos de ensino do distrito.
*
oscardebustos

QUO VADIS, FAIR PLAY?


Fechou portas o Campeonato Mundial de Futebol’2006. Da lotaria do sorteios, aos prolongamentos, passando pela marcação das grandes penalidades ditaram a vitória da Itália.
Futebol jogado, «mergulhos na piscina», amarelos e vermelhos animaram o circo. Entrevistas e campanhas prepararam os ânimos das plateias. Televisões, rádios e jornais repetiram-se até à saciedade, prometendo o céu. Foi um mês de carnaval e futebol.

Por artes ou pela arte, Portugal conquista o primeiro lugar à porta do podium dos louros. Um feito raro alcançado por uma selecção de origem compósita (com elementos do continente, das ilhas, da diáspora e dos palop). Desde a travessia aérea do Atlântico Sul[1] alcançada por Gago Coutinho e Sacadura Cabral que o ego da nossa tribo não se manifestava com tanto ardor. Praças, ruas, esplanadas abarrotavam de bandeiras, faixas e outras pinturas. Desfiles de buzinadelas «era mato». Ainda falta contabilizar o númedo das MSM.

Já o pano ameaçava cair quando Zizu, um Senhor e Mestre na arte do futebol, olha fixamente para Materazzi e arremete-lhe uma forte cabeçada no peito. A agressão de Zizane carimbou o seu último jogo na selecção francesa com a exibição do cartão vermelho directo e consequente expulsão.
Materazzi teria agido dentro prática do “fair play” requerida pela prática desportiva e exigida pela FIFA?
Zizu continua a ser um Senhor para além do futebol association, enquanto o campeão Materazzi regressa a Itália manchado com a cor vermelha do «seu» cartão da final de Berlim.
Que jamais esquecerá.

A tribo portuguesa de futebol regressa a Lisboa-Oeiras. É recebida em festa de curta duração.… Um incêndio em Famalicão (Guarda) ceifava a vida de seis bombeiros (um português e cinco chilenos).
As nossas condolências.
Relatórios, inquéritos, depoimentos surgirão em catadupa. Irão esclarecer ou mostrar as falhas da ciência do combate aos incêndios?
Entretanto, armas de arremesso partidário/corporativo poderão ser aperfeiçoadas. Demissões ou exonerações passarão ao lado.
Que a morte destes soldados da paz não tenha sido inglória.
Provavelmente haverá atribuição de condecorações a título póstumo, enquanto que as da tribo do futebol poderão estar asseguradas.
sérgio micaelo ferreira.

[1] Lisboa – Rio de Janeiro, entre 30 de Março e 17 de Junho de 1922. (Um feito histórico e bem esquecido)

7 de julho de 2006

FAROL DA BARRA - ÀS SEGUNDAS



FAROL DA BARRA RECEBE ÀS SEGUNDAS

O Farol da Barra está aberto para visitantes todas as segundas-feiras de Julho a Setembro, entre as 14H30 e as 16H00.

A entrada é gratuita, mas sujeita a inscrições prévias na
Residencial Farol ou
pelo telefone 234 390 600
(in Diário de Aveiro)

6 de julho de 2006

A PÓVOA ESTÁ EM FESTA!


Nos próximos dias 9 e 10 a Póvoa festeja o seu Sr. dos Aflitos, que só pode ser o que está na capelinha construída em 1971 pelo Povo do lugar e não o sucedâneo existente no interior da nova capela (que conhecemos por “basílica”).
Versou assim o Povo na fachada da capelinha:
"Trabalho, amor e união
Esta capela é erguida
Símbolo de gratidão
Da gente da Póvoa unida.
Nas horas de aflição
Tantos ais e tantos gritos
Resemos uma oração
Ao Senhor dos Aflitos."
*
O Santo da devoção das gentes da Póvoa tem percorrido a sua via-sacra:
A capelinha originária do Sr. dos Aflitos encontra-se na Quinta Nova, mas foi a Póvoa quem recuperou a veneração pública do padroeiro.
Há uns 2 anos, a Sra. Junta promoveu a construção doutra capela bem no meio do novo largo.

Pois ficam sabendo que só ontem o terreno do Largo da Póvoa foi formalmente transmitido a favor da Sra. Câmara. Em 96 a Junta tratou da aquisição do terreno para alargamento e embelezamento do largo, terreno que foi logo pago com dinheiro das gentes da Póvoa e da Câmara.
Só que o Manuel dos Moras sofreu a bom sofrer para conseguir dar à luz a escritura de venda daquele espaço todo, não fosse o fisco lembrar-se de lhe cobrar imposto por dois bens (Largo da Póvoa e capela nova) que já estavam fora da sua posse.
Resta-nos esperar e desejar que a Junta se apresse a providenciar a doação a seu favor do terreno do largo, única forma da freguesia poder arrogar-se proprietária daquele espaço e das benfeitorias feitas.
A “basílica”, lá que existe, existe, mas não há documento algum que o comprove e, muito menos, que nos diga quem é o seu legítimo dono.
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No entretanto, os festejos deste ano são abrilhantados pela prata da casa: Cantares Populares de Bustos e os agrupamentos musicais Central e Banda Mota.
E vivam as festas populares!
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oscardebustos

4 de julho de 2006

QUINTA NOVA RECEBEU A PRIMEIRA ESTAÇÃO- TELÉGRAFO - POSTAL


CORREIOS
A primeira Estação – Telefone – Postal foi instalada na Quinta Nova, na casa do sr. Augusto Simões da Costa, a seu pedido e sob a sua orientação, teve como carteiro o sr. Alexandre, natural da Palhaça, que ia à Quinta Nova todos os dias úteis buscar e trazer a correspondência, e na Palhaça e em Bustos a distribuía, deixando-a nas caixas do correio, ou nas casas para isso autorizadas.

Foi fundada em 1922 e permaneceu na Quinta Nova até Maio de 1927.

Nesta data, a pedido do sr. Manuel Francisco Rei, Presidente da Junta de Freguesia e de outras individualidades, foi transferida oficialmente para Bustos, e ficou instalada na pequena sala da senhora Maria Tribuna, onde outrora foi sla de aulas, a que noutro lugar faço referência. No entanto, só a 1 de Janeiro de 1928 começou a funcionar como Estação – Telefone – Postal, usando o sistema morse[1].

Pouco tempo depois, mudou para uma velha sala onde existe o actual correio e a seguir para uma sala de Joaquim Tribuna, onde teve uma taberna enquanto o edifício do Correio esteve em construção, a qual foi inaugurado e 8 de Agosto de 1956.

Como disse, foi primeiro carteiro na Quinta Nova e em Bustos o sr. Alexandre, da Palhaça, sendo substituído pelo sr. Miguel Ruivo, também da mesma freguesia, que aqui fez serviço até 1954.

(Merecem a nossa homenagem os bustoenses que à causa da construção do Correio se sacrificaram com dinheiro e trabalho.
Foram eles: Dr. Manuel dos Santos Pato, Manuel Francisco Domingues, Manuel Joaquim de Oliveira Sérgio, Manuel Reis Pedreiras, Vitorino Reis Pedreiras, Manuel Nunes Pardal, Albano Tavares da Silva e Herculano Silva).

Durante muito tempo era o sr. Pataco, de Oliveira do Bairro, que vinha a pé daquela vila, com a correspondência, que deixava pelas caixas postais de Oiã, Palhaça, Bustos, Mamarrosa e Troviscal.

Os proprietários das lojas onde estavam as ditas caixas do Correio, tínhamos selos que vendiam para toda a correspondência e eram responsáveis pelo bom funcionamento do Correio.

Os benquistos Carteiros ainda em serviço desde 1954, há precisamente 30 anos, são o Manuel Reis, do lugar de Paradela, concelho de Águeda e o Manuel Martins, também conhecido por Manuel Serralheiro, por ter sido serralheiro com o seu pai, tendo nascido na Póvoa de Bustos e vive com sua esposa e filhos na Mamarrosa.

Ambos merecem os nossos louvores!

Antes e depois da inauguração do actual Correio foi Chefe a srª D. Maria Armanda L. Belo, senhora muito dedicada que em Bustos se casou, a quem foi oferecida uma arca em prata com os nomes das pessoas que a ofereceram.

Com a dita Senhora, na casa do sr. Tribuna, iniciou os seus serviços a 13 de Abril de 1956 o actual Chefe e meu bom amigo sr. Eduardo Santos, que vive com os seus familiares no 1º andar do Correio – o único edifício que pertence ao Estado, porque todos os edifícios dos correios das freguesias do Concelho, são particulares.

Até ao dia 1 de Novembro de 1958, existiu um giro que servia Bustos e Mamarrosa, não percorrendo todas as ruas. Também servia Penedos e Malhada, mas por intermédio de uma mala conduzida pela sr.ª Carolina, que era levada do posto de Mamarrosa, da casa do sr. Manuel Martins, mais conhecido pelo sr. Manuel da Agostinha onde tinha taberna, e o sr. Eng. Octávio Pato tem agora sua casa, e era levada ao posto da Malhada, ficando na casa do sr. João Branco, joalheiro onde as pessoas procuravam a correspondência.

A partir de 1958, ficou a Mamarrosa a ter um giro independente de Bustos, tendo sido criados dois giros em Bustos. Um dentro da freguesia, servindo o lugar da Tojeira, que ainda se mantém. O outro giro servia os lugares de Tabuaço, Rio Tinto, Condes, Pardeiros, Vale, Santa Catarina, Fonte da Costa, Andale, Estrada e Mesas.

Tabuaço e Rio Tinto que pertenceram a Soza, pertencem actualmente a Ouca.

Quinta dos Troviscais pertence à freguesia dos Covões, e os restantes lugares à freguesia do Covão do Lobo.

Desde 1979 há dois giros., mas só dentro da freguesia, embora se continue a levar a correspondência ao lugar da Tojeira.

«O Ti Zé Margaça» era bem conhecido na freguesia. Homem alto, pobre, mas muito honesto, exercia a profissão de barbeiro e, nas horas vagas, era encarregado pelo chefe do Correio, de levar os telegramas aos destinatários, de quem recebia por vezes boa paga.

Mas também tinha a sua agência de correio particular, levando e trazendo cartas dos namorados, muito em segredo, que o gratificavam pelo seu serviço, rápido e eficaz!...

in Hilário Costa, Bustos – Memórias de um bustoense, edição do Autor,1984

[1] (nota de srg). Por ter sido radiotelegrafista e operador de morse na 1ª Grande Guerra, João Rei fora convidado a aceitar emprego nos correios.A recusa foi sempre a resposta.

3 de julho de 2006

ARSÉNIO MOTA: UM MO(NU)MENTO DE VIDA

“ O texto literário não é apenas lido pelo leitor, também o leitor é “ lido” pelo texto na medida em que sobre ele se pronuncie.”

in Quase tudo nada, pag 41

A primeira dimensão do livro é física. O seu tamanho, a forma, a capa estabelecem um primeiro contacto. Muitas vezes essa dimensão-objecto é uma fronteira, constitui um discurso autónomo do texto que encerra. Não é o caso de “Quase tudo nada” onde a existência física do livro, o seu manuseamento, se torna parte integrante do texto.

Na capa vemos o autor (ou alguém por ele) que espreita à janela, e nós espreitamo-lo. Por cima do ombro. Ele contempla a “sua existência como um fio singelo a desenrolar-se”. Espreita-se.
E tal como a vida é feita de avanços e recuos, de buscas, também o livro assim nos é servido. Os vários capítulos não estão dispostos segundo a sua numeração. É preciso procurá-los, andar para trás e para a frente porque, avisa Arsénio Mota, o leitor deverá ater-se à numeração romana de (I a VIII). Quer assim que o acto de procurar o capítulo seguinte, o vai e vem do desfolhar das cento e vinte seis folhas que compõem a narrativa, tenha a dimensão de um subtexto e nos interrogue. Que imitando a própria vida o leitor se confronte com avanços, recuos, indecisões, procuras, enganos…

“Quase tudo nada” é o momento em que o Arsénio Mota, escritor, espreita o Arsénio Mota, cidadão. Desde o berço na aldeia bairradina, até ao quotidiano na cidade do Porto. Fala da sua passagem pela Venezuela, relata as torturas infligidas pela PIDE, disserta sobre as mulheres e o amor.
A personagem central da narrativa biográfica é Tumim, e um leitor mais desatento julgará que o autor se esconde. Estará a cometer um erro porque se na aparente desordem dos capítulos o autor nos interroga e nos provoca, de novo nos interpela quando, na terceira pessoa, narra a história desse tal Tumim, que não é nem um heterónimo nem um alter-ego, mas uma parte de si ou, se assim o entendermos, uma parábola.
Ao contar certos episódios de uma longa vida e não outros, (resultado de “sucessivas decantações íntimas”), ao ignorar a sua actividade literária, Arsénio Mota faz uma opção essencial. E é usando a dimensão literária do texto que disso nos previne. Ele sabe que nós o espreitamos enquanto ele se espreita. Não perde tempo a olhar para traz, mas tem o cuidado de nos avisar que está a contar a história “de um outro TU que há em MIM.” Deixa claro que lhe interessa a parte, mas não o todo, que se atem apenas ao que vê quando espreita daquele canto específico da janela.

A concepção é inovadora, subtil, inteligente, busca a cumplicidade do leitor, provocando-o, e reinventa a narrativa biográfica. A escrita é fluida, apaixonante, revela-nos Arsénio Mota na dimensão dessa outra obra, a dos dias comuns de um cidadão nascido em Bustos. E ele próprio se interroga: “Um romance pode vir a ser uma obra de arte. Mas poderá sê-lo também uma vida?”
A resposta é “Quase tudo nada”, onde a autenticidade da narrativa se cruza com a força encantatória do romance. Do que resulta, para usar palavras de David Mourão Ferreira, ”um monumento de palavras.”

Belino Costa