6 de abril de 2006

CAFÉ RECREIO (6 DE ABRIL DE 1947) PRECEDE ‘POMPEU DOS FRANGOS’

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Em 47 era dia de Páscoa. Casa cheia. Todos queriam entrar. A bica de café de saco tirava o lugar ao vinho a copo.
Vitorino Reis Pedreiras[1] regista no seu diário:

“Inaugurou-se hoje, em Bustos, o Café Recreio, de quem é proprietário[2] o Manoel Simões Aires. Esta nova casa comercial veio preencher uma lacuna no nosso meio, que se vai a pouco e pouco modernizando, o que nos alegra constatar.
Várias pessoas fizeram uso da palavra enaltecendo tal iniciativa e, como me encontrava nessa altura no café, fui convidado a fazer uso da palavra, no que acedi.
Em momentos felizes de espírito, prestei a minha homenagem ao Aires pelo seu arrojado empreendimento, fazendo um pouco de história do nosso labor e técnica no cultivo da terra, de onde tínhamos tirado a nossa economia. Disse que, sendo Bustos uma terra rica com fortes poderes de aquisição, porque não haveria de prosperar o comércio e a indústria? Finalizando, fiz um apelo para que todos cumprissem o seu dever com esta casa, que agora se inaugura. O café que se apresenta com bons móveis, está muito decente e repleto de fregueses, o que deve alegrar o seu dono, e todos gostam ver triunfar uma causa.”

É nos anexos deste Café Recreio que Heitor Carvalho, companheiro assíduo das merendas, engendra a confecção do frango de piripiri.
Constou-se que o primeiro galináceo grelhado no fogareiro foi “subtraído” a alguém do grupo das merendas. Por certo que nem a Ti Júlia, mãe do Pompeu, nem o Heitor estariam dispostos a sacrificar um frango. O certo é que dentro do grupo havia especialistas em pregar partidas, ao acaso: Aires (Gordo), Lino Rei, Manuel Simões dos Santos (Barroca) e Assis Rei.

Da peça produzida por Milton Costa em Bustos e o Molho de Piri-Piri[3], respiga-se:

“O primeiro utilizador do molho foi o Sr. Heitor de Carvalho, que gostava muito de “molhacas” e tinha estado em Moçambique, de onde trouxe consigo piri-piris ou a ideia de um molho com piri-piri. Certo dia este cidadão de Bustos assou uns frangos com o molho de piri-piri, num fogareiro, e todos os seus companheiros gostaram. No Café Recreio do Pompeu Aires (Pompeu dos Frangos) experimentaram mais e depois começaram a abrir o frango para assar em assador com grelha giratória. E a delícia do frango de churrasco estava inventada e pronta para ser aquilo que é hoje.”
O sucesso do molho resulta de inúmeras experimentações «castigadas» no almofariz da botica levadas a bom termo pelo Dr. Assis Rei.
Do aproveitamento das miudezas dos frangos, a Nina (viúva do Pompeu) experimenta a confecção do arroz de miúdos que teve imediata aceitação popular … Quantas «monhacas[4]» foram adornadas com este petisco?
Em fins de 1963, o Pompeu transfere-se para a Malaposta onde instala o “Pompeu dos Frangos”, uma estrutura moderna na antiga casa da muda do serviço da posta. Atento à história do edifício, recupera em painéis de azulejo os episódios mais significativos relacionados com as viagens das antigas diligências. São painéis da memória e simultaneamente de informação atraente e expedita.

O nome do Pompeu (dos Frangos) espalhou-se por todo o país.
O Pompeu foi um mestre nas relações públicas e teve o condão de contribuir para a criação de tertúlias que funcionavam regularmente. O restaurante ainda hoje é frequentado pelos descendentes dos primeiros clientes.

O Café Recreio está associado aos primeiros «herdeiros».ao surgimento dos excelentes serviços da restauração em Bustos – o Piri-Piri e o Ti Maria.
Assíduo participante nos “18 de Fevereiro”, o Pompeu[5] esteve sempre pronto a apoiar as iniciativas de engrandecimento de Bustos, para além de ser solidário para com os desfavorecidos.
……………..

O Pompeu Aires e Heitor Carvalho foram retirados da lista dos esquecidos do imaginário de Bustos.
Falta cumprir a dívida da homenagem pública.
...
sérgio micaelo ferreira

[1] Memórias de Outros Tempos, 1995
[2] do edifício
[3] http://bustos.blogs.sapo.pt/arquivo/2005_02.html, Milton Costa, 28.02.2005.
Nota: Arsénio Mota escreveu uma crónica(?) alusiva ao Frango de Piri-Piri. Logo que haja acesso ao texto, ele será publicado no NB.
[4] Desconheço o grafo.
[5] A foto com as quatro personalidades regista um momento do Dia de Bustos, no Piri-Piri. Foi extraída do blogue.

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