21 de fevereiro de 2006

LÍNGUAS MATERNAS EM DIA INTERNACIONAL

A Unesco tem desde sempre desenvolvido actividades no campo das línguas. E ao festejar o Dia Internacional da Língua Materna, desde 1999, mostra a sua forte dedicação e empenho na contribuição para preservação da herança linguística mundial contra as forças de globalização imposta que não respeitam os indivíduos, nem a suas línguas e culturas.

Do planeta de babel dizem que ainda há cerca de sete mil idiomas e que em cada mês, dois desaparecem. O avanço da globalização do comércio, a mobilidade de pessoas e bens, o avanço tecnológico, a massificação da comunicação social e outros condicionantes contribuem para o surgimento de línguas dominantes e a extinção de idiomas com expansão restrita. “A Organização das Nações Unidas para Educação, Ciência e Cultura (UNESCO) lançou um apelo internacional para que os sistemas educacionais locais ensinem às crianças suas línguas maternas, em uma forma de tentar preservar uma das maiores heranças culturais do planeta: a diversidade linguística. “Sabe-se hoje que ensinar uma criança simultaneamente em dois idiomas – o materno e o oficial – ajuda a obter melhores resultados, além de estimulá-las no seu desenvolvimento cognitivo e na sua capacidade de aprendizado”, disse o Diretor-Geral da Organização, Koïchiro Matsuura

Já em finais do século XIX, Eça de Queiroz defendia o uso “impecável” da língua materna:

“Um homem só deve falar, com impecável segurança e pureza, a língua da sua terra: - todas as outras as deve falar mal, orgulhosamente mal, com aquele acento chato e falso que denuncia logo o estrangeiro, Na língua verdadeiramente reside a nacionalidade; - e quem for possuindo com crescente perfeição os idiomas da Europa vão gradualmente sofrendo uma desnacionalização. Por isso o poliglota nunca é patriota.”

Além disso, o propósito de pronunciar com perfeição línguas estrangeiras constitui um lamentável sabujice para com o estrangeiro.” (Eça de Queiroz, A Correspondência de Fradique Mendes, Edição «Livros do Brasil», 3ª Edição. Lisboa
O tempo das novidades entrarem em Portugal de comboio via Pampilhosa já está esquecido. Hoje, o mundo perfila-se à nossa frente através de um postigo. Fradique Mendes teria de usar outra argumentação na sua carta «remetida» a Madame S. para fazer a apologia da língua materna.
A cada passo anuncia-se com pompa o sexto lugar ocupado pelo português no concerto das línguas mais faladas no mundo.
...
Arsénio Mota constata a falta de apoios à fixação da língua portuguesa nas comunidades espalhadas pelo mundo e que “hoje é-nos dado contemplar as consequências do abandono a crescerem dentro e fora da comunidade linguística.” E adianta: “É possível vaticinar a eclosão plena de crioulos (i) em cada um dos países africanos lusófonos num horizonte temporal muito limitado e, entretanto, no Brasil, a evolução salta para além das disparidades ortográficas e fonéticas, fazendo-se ouvir vozes radicais, com algum rasgo profético, a pedir a mudança do designativo da língua nacional de «português» para «brasileiro».” (Arsénio Mota, Inclinações Pontuais, Campo das Letras, 2000)

L mirandés ye falado an amportantes juntouros de pessonas mirandesas que son benediços nas percipales cidades de l paíç[1].

Neste dia internacional, La lhéngua mirandesa, ua lhéngua de Pertual (lei nº 7/99) não teve sequer um minuto no telejornal da RTP1.

Ah mal rais ta parta la RTP1! (Raios partam a RTP1!)

Sérgio Micaelo Ferreira

[1] Tradução: O mirandês é falado em numerosas comunidades de imigrantes nas principais cidades do país (a).
(a) in, L miu purmeiro lhibro an Mirandés/O meu primeiro livro em Mirandês, Carlos Ferreira e Paulo Magalhães, Edição Planeta Vivo, Porto, 2005.
(i) O crioulo já é língua oficial de Cabo Verde.
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