21 de outubro de 2005

AUTÁRQUICAS EM OLIVEIRA DO BAIRRO[1] - REFLEXÕES SOBRE UMA DERROTA ANUNCIADA


Por Fernando Vieira
[Presidente da Direcção da União Desportiva de Bustos e membro da Assembleia Municipal, eleito na lista do CDS, em 2001]
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ERROS COMETIDOS PELO CDS

Consumou-se o esperado. A vitória do PSD foi oferecida pelos erros cometidos pelo CDS na sua avaliação pré-eleitoral.
Falhou candidata indigitada, falhou a Comissão política e falhou principalmente o antigo Presidente Camarário.
Começamos por este. Agarrado ao poder em virtude de muitos anos o ter exercido, não conseguiu superar o facto de ser substituído. Ainda que venha a dizer que quis largar o poder, a verdade real é que já não tinha dinâmica suficiente para mais um mandato. Seus auxiliares directos em rota de colisão, também contribuíram para o desfecho final. É do conhecimento público do seu Vice-Presidente e do Sr. Eng. Responsável pelas obras, em serem o continuador do cargo. As “lutas palacianas” e alguns dissabores da vida pública tornaram impraticável esta substituição, ajudada por uma não definição ao longo do tempo de quem era realmente o número dois. É conhecida a afirmação de que “não serei mais segundo de ninguém”.

ANTIGA PRESIDÊNCIA CAMARÁRIA ESTAVA ESGOTADA

Pelo seu comportamento centrista e autoritário, pelos conflitos que gerou nas Assembleias Municipais, pelo temor que os seus apoiantes lhe tinham, pelos rancores que foi amealhando durante longos anos de poder, compreensível e justificado, a antiga presidência camarária estava esgotada. Não teve discernimento suficiente em perceber que o seu ciclo estava terminado e que devia passar o poder com decoro. Quis mantê-lo até ao último dia para realizar as grandes obras do Troviscal e os grandes monumentos épicos do passado ultramarino, e com isso prejudicou profundamente, a sua futura sucessora. Deixou-se, puerilmente, levar pelos bajuladores do poder, que, num último, tentavam obter benefícios ainda possíveis, vide segundo campo relvado do Oliveira do Bairro.

DOCE ENGANO

Falhou a candidata oficial, quando candidata não se mostrou forte na dinâmica interna da Câmara. O não ter conseguido estabelecer uma relação de futura dirigente com o antigo Presidente, deu a perceber a fragilidade do seu conteúdo político Ao não ter tido a sua opinião política e ao não fazer passar as suas aspirações na resolução dos problemas emergentes de campanha, deu ao eleitorado uma imagem de subserviência e continuismo. Deveria impor-se. Mostrar que o futuro passava pela sua mão e as situações existentes deveriam ter o seu aval. Afinal, o que queria o presidente era perpetuar a sua imagem, fazendo passar o seu poder e estabelecendo uma verdade pessoal e inexistentes. “Comigo não haveria derrota”. Doce engano. Seria maior.

PERSPECTIVA POLÍTICA DE IMEDIATISMO ELEITORAL

Falhou a candidata oficial quando não soube avaliar correctamente a sua Comissão Política e o seu “núcleo duro” de campanha. Apesar de avisada várias vezes, não teve a capacidade de inverter a situação para permitir que novas ideias e atitudes pudessem refrescar a sua campanha. A eficiente “blindagem” a que foi submetida a candidata oficial pela sua Comissão Política, que justifica-se em razão dos sonhos políticos dos seus componentes, que nunca tinham exercido qualquer actividade autárquica e viam nesta oportunidade a concretização do seu sonho, e a proposta apresentada pela mesma, já desfasada no tempo e espaço – (promessa de muros, asfalto e calçadas à porta) deram a entender uma perspectiva política de imediatismo eleitoral em detrimento de grandes objectivos.
A fase de promessa vá de apoio institucional a tudo e a todos cai no ridículo da falsidade, visto não ter a Câmara poder financeiro para cobrir todas as promessas.

A TRAIÇÃO À UNIÃO DESPORTIVA DE BUSTOS

Falhou a candidata oficial, quando não conseguiu gerir a contento, os problemas oriundos da campanha. A injustiça feita ao filho do Professor Silas no Troviscal, com repercussão no número de votos desta vila, a traição à União Desportiva de Bustos, com repercussões (perda de cerca de 400 votos na Junta de Freguesia e 350 para a Câmara Municipal), e a troca e esquecimento do Sr. Paulo Martins em Oiã, o dono dos votos na região e não o Vice-Presidente da Câmara ou o Presidente da Comissão Política, Concelhia, com perda de 700 votos para a Câmara (comparar com o número de votos no Silveiro), foram factores determinantes no resultado final. Faltou a atitude de confronto com o presidente e a marcação de uma posição oficial e pública perante os protestos. Manter-se na expectativa, com resoluções “a posterior”, demonstraram insegurança.

FALTOU UMA AVALIAÇÃO REAL E PESSOAL

Falhou profundamente a Comissão Política quando fez “tábua rasa” no apoio ao Presidente e abandonou a candidata oficial. Sendo dependente do Presidente e mudando de opinião conforme o humor do Presidente, pecou em várias ocasiões por ser um porta-voz presidencial. Pecou quando contactou as pessoas. A inclusão do Presidente da Comissão Política Concelhia na lista de vereadores, com os pelouros do desporto e da cultura, em detrimento do Sr. Paulo Martins, já referenciado acima, mostra o oportunismo político da situação. Faltou uma avaliação real e pessoal das pessoas capazes para o cargo. Mais um exemplo de blindagem da cidadania. Tinha consciência da má escolha, mas precisava do trabalho braçal para a campanha.

FUTEBOL (de BUSTOS) NÃO VALIA MAIS DE 100 VOTOS

Falhou profundamente a Comissão Política quando fez passar a mensagem em relação à União Desportiva de Bustos que o futebol não valia mais de 100 votos. Equivocou-se. Valeu mais, e quase tira a Presidência da Junta ao actual Presidente, e por continuidade retirou a possibilidade da candidata oficial.

REPETIR ANTIGAS PROMESSAS
Falhou profundamente a Comissão Política quando não apresentou um programa de governação consistente. Repetir antigas promessas, falar em piscinas, prometer em facilidades autárquicas, fazer muros, embelezar calçadas e apoiar indiscriminadamente no mesmo ano todas as associações, é fazer política dos anos outrora ultrapassados. A falta de um programa consistente, com objectivos alcançáveis nos próximos quatro anos, apoiados em dados confiáveis, e com pessoas capazes era importante após a última gestão autárquica pois iria fazer a diferença.

CDS VANTAGEM DE 15 PONTOS

Falhou a Comissão Política, quando escolheu os “cabeças de cartaz”. Agora, vão as pessoas escolhidas por ela, Comissão Política. Vão dizer que não cumpriram o prometido. Vão dizer que faltou responsabilidade política. Vão dizer que não deram tudo. Vão dizer que se acomodaram. Vendeu a Comissão Política durante toda a campanha que a vitória era líquida e certa. Que as sondagens davam vantagem de 15 pontos percentuais. A política é como o futebol, o resultado só no fim.

GANHOU O PSD

Ganhou o PSD quando explorou os pontos fracos do adversário. A candidatura ganhava força a cada momento mais infeliz do CDS. Começou a ganhar protagonismo com as Assembleias Municipais. As atitudes finais do Presidente actual foram exploradas ao extremo. As demonstrações de força do mesmo eram tema de conversa em vários logradouros públicos.

PSD ESCUTOU AS QUEIXAS

Continuou a crescer a candidatura, quando deu ouvido ao injustiçados. Escutou as suas queixas e veio à praça pública falar da sua justiça. Comprometeu-se com uma resolução. Continuou a crescer, quando apresentou um programa eleitoral mais preparado e mais consistente.

PSD SOUBE UTILIZAR O TEMPO

Continuou a crescer quando o seu candidato, já mais adaptado ao jogo político e mais liberto em tons de oratória, se aproximava mais das pessoas e dava a sua presença para a resolução dos problemas. Soube utilizar o tempo na última semana, fechando acordos importantes, que assumiu pessoalmente. Os reclamantes encontraram o “guichet de reclamações aberto” e com uma pessoa atenciosa a recebê-los.

VAMOS AGORA AVALIAR

Venceu o PSD pela luta que travou. Foram persistentes. Vamos agora avaliar se o Presidente que se despede foi realmente um bom gestor, como sempre anunciou. Vamos ter a verdade contabilística dentro em pouco. Vamos avaliar o tamanho da dívida. Vamos saber em quanto estará comprometido o próximo orçamento. Com a candidata oficial no poder, as verdades seriam atenuadas. Com o PSD no governo, a realidade vai aparecer e vamos aplaudir ou apurar a última gestão camarária.

VAMOS OBSERVAR AS ASSEMBLEIAS MUNICIPAIS

Vamos, agora, observar as Assembleias Municipais. Acreditamos que terão outro conteúdo, outra forma, outra disciplina

PARTICIPAÇÃO CÍVICA AO NÍVEL DOS SEUS HABITANTES

Todos aqueles que, directa ou indirectamente, participaram nesta eleição, com maior ou menor envolvimento, desejavam e desejam um Concelho melhor, com maior equidade, em melhor desenvolvimento e gestão, um progresso sustentado e uma participação cívica aos nível dos seus habitantes.
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[1] Com a devida vénia, reproduz-se o texto publicado em 20.10.2005 no Jornal da Bairrada, pág. 36. A inclusão de sub-títulos é da responsabilidade de Sérgio Micaelo Ferreira.

4 comentários:

  1. Anónimo13:10

    parabéns!... É o comentário mais bem estruturado e realista que leio, antes e depois das eleições.
    Analisa suportado em números,realista ao avaliar o valor das pessoas no contexto político, sóbrio quando comenta o trabalho do PSD e da sua equipa,enfim o melhor que já li no que se refere às eleiçoes autárquicas.

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  2. Anónimo22:01

    Anda lá brasileiro. Começa a fazer umas vénias aos laranjinhas que ainda pode ser que recebas um tapete relvado. Já te esqueceste do tempo em que andavas de braço dado com o Gala? Vai mas é para a tua terra, que brasileiros já cá temos muitos e muitas

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  3. Anónimo20:55

    O Brasileiro é tão só um luso-descendente.
    O brasileiro aderiu à lista do CDS a troco da garantia que ia ter campo novo. Acreditou. Acílio&Manuel montaram o cenário do cumprimento da promessa quase até ao fim do mandato. Gala&Pereira usaram o brasileiro como chiclet.

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  4. Anónimo23:56

    muito bem elaborado! com bons discursos e capaz de demonstrar aquilo que se passou!
    Calêm-se aqueles que criticam quem foi capaz de manter uma instituição como a UDB a trabalhar - ninguem é perfeito e ele tem muitos erros! Calêm-se também quem fez criticas de aliança, pois estes que criticam também se aliam para obter vantagens na sua vida e esta até era em pról de uma instituição pública!
    Esperamos SR. Presidente da Camara que este problema seja resolvido, pois senão também será como os outros - supostas promessas!
    Já agora as pessoas que escrevem neste blog também deveriam ter a preocupação de apurar a realidade de tudo o que se passa, pois eu próprio não sei! Sei quem uns andam feridos e outros também, mas o zé povinho também não sabe e se calhar até votou enganado

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