24 de junho de 2005

UM HOMEM ÍNTEGRO!

Faz amanhã 37 anos que Amaral Simões dos Reis Pedreiras foi levado pela polícia política do Estado Novo para a prisão, em Coimbra. A sua história é o exemplo de como um homem bom, sem aspirações políticas ou militância partidária, foi preso e torturado. E tudo porque foi incapaz de negar um pedido de ajuda, obedecendo à sua consciência, a um inato sentido cívico, a um profundo amor à liberdade.
E a prisão, a tortura, a constante perseguição policial não o vergaram nunca, mais lhe incutiram a obrigação, a coragem de afrontar a ditadura de Salazar e Marcelo. Foi essa coragem, essa consciência cívica que o levaram a ser candidato pela Oposição Democrática (CDE) nas pseudo eleições parlamentares de 1973. Ao lado de homens como Álvaro Seiça Neves, Neto Brandão e José de Oliveira e Silva mostrou o que é ter coragem e honra.

Escrevia-se então no desdobrável da candidatura oposicionista:

“Amaral Simões dos Reis Pedreiras. Agricultor. Natural de Bustos, concelho de Oliveira do Bairro, nasceu em 1927. Muito considerado na região bairradina, participou em todas as campanhas eleitorais e movimentos cívicos levados a efeito no distrito, designadamente em Aveiro. Apoiou as candidaturas à Presidência da República de Norton de Matos, Rui Luís Gomes, Arlindo Vicente e Humberto Delgado. Tomou parte activa nos três Congressos de Aveiro, tendo, no último, pertencido à Comissão Distrital.”

Amaral é o resistente livre e independente a quem nunca interessou o poder político. Sempre o recusou. Recusou-o em Bustos, logo depois do 25 de Abril, quando a maioria o indicava para a presidência da Junta de Freguesia, recusou-o no Concelho quando o convidaram para integrar a direcção do Município. Tudo o que fez, tudo aquilo porque passou nos tempos de Salazar e Caetano foram ditados por uma única ambição, a liberdade.

Amaral é o anti-fascista, o republicano por essência, o cidadão solidário, o democrata generoso. Isto no tempo em que tudo nos era proibido.

Por mim comovo-me, e agradeço o exemplo. Pela sua verticalidade, pelo extremo sentido de honra, pela coragem com que enfrentou as maiores torturas permanecendo fiel aos seus princípios e valores.
Um homem íntegro!

Belino Costa

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